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‘Sugar daddies’ patrocinam mais de 155 mil estudantes no Brasil

“Gosto de homens mais velhos. Além disso, preciso de ajuda: trabalho e pago os meus estudos. Fica pesado fazer tudo”, diz Raikia Zaira, de 22 anos. Moradora de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul (MS), ela está em busca de patrocínio para pagar suas contas pessoais. A contrapartida seria estabelecer um relacionamento com o colaborador.

Para alcançar seu objetivo, Raikia recorreu a um tipo de site de encontros centrado na figura do chamado “Sugar Daddy”. O termo em inglês formado pela junção das palavras “doce” e “papai” é utilizado para denominar homens mais velhos que bancam despesas de mulheres mais jovens como retribuição do que se define em linhas gerais pelos sites especializados como “relacionamento”.

Segundo um levantamento produzido pela Universo Sugar, uma das plataformas deste segmento, 155 mil jovens, entre homens e mulheres,  recebem ou já receberam auxílio financeiro por intermédio deste tipo de site no Brasil.

O patrocínio em troca de uma relação pessoal também desperta um questionamento: este tipo de acordo poderia ser classificado como prostituição?

“O relacionamento sugar não se caracteriza apenas como uma troca financeira por sexo, o que seria prostituição. É uma relação em que ambas as partes fazem as regras de como será o relacionamento, assim como qualquer outro”, diz Marcelo Santoro, integrante da Comissão de Direito da Família, da Ordem de Advogados do Rio (OAB/RJ).

“Pensam que é prostituição por causa do dinheiro. Mas o relacionamento com suggar daddy não tem sexo em primeiro lugar e nem é uma troca. Tudo acontece como em um encontro”, diz Raikia, que compara a relação como num casamento, onde, por exemplo, “a mulher fica em casa e o marido trabalha”.

Estudante de medicina veterinária, ela já recebeu ajuda de custos para pagar aluguel e faculdade. O relacionamento mais sério foi com um homem de 46 anos e se estendeu por três meses. “Ainda não encontrei o cara certo. Mas conheci pessoas bem generosas”, diz ela.

“ERA UMA RELAÇÃO IGUAL A NAMORO”

Outra jovem universitária, de 20 anos e que preferiu não se identificar, define a experiência neste tipo de encontro: “Era uma relação igual a namoro.  Ele falava em namorar em troca de uma ajuda financeira e mimos. Topei na hora. Combinei que ele pagaria o meu pré-vestibular e me daria uma mesadinha”, diz a jovem, que mora em Porto Alegre.

O site MeuPatrocínio, outra plataforma do mesmo segmento, diz ter 2 milhões de cadastros e indica um perfil de seus usuários: entre as mulheres inscritas, 76% cursam faculdade.

Ambos os sites afirmam não aceitar práticas de prostituição dentro das plataformas. No entanto, o controle em relação a isso diminui quando a conversa passa a ser direta entre os usuários, reconhece Anne Viana, diretora de comunicação do Universo Sugar.

“Os usuários podem denunciar perfis que não estejam adequados às normas do site. Nós avaliamos e podemos suspender essas contas. Porém, há casos de pessoas que fazem dos patrocínios uma moeda de troca. Por exemplo, daddy que oferece um presente ou que deposita certo valor para que a baby mande uma foto de tal forma, ou faça tal coisa. Nós não podemos controlar a conversa das pessoas.”

Um advogado paranaense de 50 anos, que preferiu não se identificar, mencionou duas experiências como sugar daddy de parceiros homens: “Quando não há interesse em namoro ou companhia, e a relação se restringe ao aspecto físico, é prostituição. Mas neste tipo de site o universo é muito amplo, vai desde o cara que simplesmente quer uma companhia para sair a outro com interesse puramente sexual. E há ainda aqueles, onde eu me enquadro, que querem algo emocional e sentimental.”
Epoca
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