Após uma sequência de elogios ao presidente da Bolívia, Evo Morales , o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticá-lo publicamente nesta sexta-feira, em cerimônia no Palácio do Planalto.
Sem citá-lo nominalmente, Bolsonaro disse que as maiores queimadas vêm acontecendo na Bolívia.
A fala do presidente ocorreu depois da reunião de chefes de estados de países sul-americanos com territórios cobertos pela floresta amazônica, que aconteceu nesta sexta-feira na cidade de Letícia, na Colômbia, e da qual o presidente brasileiro participou rapidamente por videoconferência.
— Um parece que não estava integrado a nós e disse até que o capitalismo está destruindo a Amazônia, como se no país dele não tivesse ocorrido as maiores queimadas, muito maior que na Amazônia (brasileira) — disse,durante a assinatura da Medida Provisória que cria a carteirinha estudantil digital, realizada minutos após sua participação por vídeo no encontro.
Na reunião, Morales disse que a “mãe Terra está ameaçada de morte” e afirmou que “o lucro e o consumismo de alguns ameaçam a vida de muitos.” O presidente boliviano afirmou ainda que os incêndios na Amazônia “são sintomas que devem nos levar a identificar as causas do aquecimento global e ações urgentes para salvar o mundo.” Ele ainda declarou ter sentido falta de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, no encontro.
— Como é possível por diferenças ideológicas estarmos distantes? Por cima das diferenças estão os direitos da mãe Terra — discursou Morales.
Bolsonaro confirmou que ele vetou Maduro no evento, apesar de a Venezuela também abrigar parte da floresta amazônica, e criticou a declaração do líder boliviano, acusando-o de “saudar” o socialismo.
— E esse presidente saudando o socialismo e dizendo que faltava um presidente que eu vetei naquele momento, um presidente que estava maduro demais por isso que eu vetei para ele comparecer ao evento — disse Bolsonaro.
Nos bastidores, Bolsonaro também demonstrou incômodo com o fato de Morales ter falado ao telefone com o presidente da França, Emmanuel Macron , antes do encontro dos países da região amazônica.
O mandatário francês, que propôs discutir a “internacionalização” da Amazônia, voltou a ser criticado por Bolsonaro durante seu discurso na conferência com os demais países nesta sexta-feira.
Também na tarde desta sexta-feira, o presidente boliviano agradeceu em sua conta no Twitter ao líder francês, Emmanuel Macron, por sua “solidariedade e disposição de trabalhar” para combater os incêndios na Amazônia. Na publicação, Morales chamou Macron de “hermano” e afirmou que é urgente cumprir o Acordo de Paris .
Agradezco la llamada del hermano @EmmanuelMacron, presidente de #Francia, para expresar su solidaridad y disposición a trabajar de manera conjunta en las tareas de mitigación de incendios en la Chiquitania y Amazonía. Es urgente cumplir el Acuerdo de París. #UnidadEnLaAdversidad— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) September 6, 2019
Em seguida, o presidente boliviano fez uma ampla defesa da Amazônia e disse que é importante trabalhar de maneira conjunta com outros países, elogiando a atuação do G7 na crise sobre o tema.
“O lucro e o consumismo de poucos ameaçam a vida de muitos.
Os incêndios em nossos bosques e na Amazônia são sintomas que nos devem levar a identificar as causas do aquecimento global e ações urgentes para salvar o mundo”, escreveu.
Em julho, durante a Cúpula do Mercosul, em Santa Fé na Argentina, Bolsonaro fez afagos a Morales.
Na ocasião, chegou a dizer que estava com “saudades” do boliviano e, em entrevista coletiva a jornalistas, mencionou que “até o Evo Morales” se mostrou disposto a buscar uma solução para a Venezuela.
Depois, quando os líderes posaram para a foto oficial do evento, todos levantaram a mão direita, mas Morales, por sua vez, acenou com a esquerda.
Bolsonaro, então, pediu para que ele trocasse a mão. O boliviano manteve a posição. A cena provocou risos discretos dos presidentes Mauricio Macri (Argentina), Mario Abdo Benítez (Paraguai), Tabaré Vázquez (Uruguai) e Sebastián Piñera (Chile).
Em entrevista ao GLOBO, no final de julho, Bolsonaro confirmou que estava em franca aproximação com o presidente da Bolívia e contou que ele havia demonstrado interesse em comprar um avião KC-390 da Embraer.
O Globo