Um bombardeio feito por forças do Azerbaijão atingiu um dos símbolos da luta dos armênios étnicos de Nagorno-Karabakh pela posse da região separatista, objeto de um duro conflito que chegou ao seu 12º dia nesta quinta (8).
O domo da catedral Ghazanchetsots (Divino Salvador) foi alvo da artilharia azeri. Ninguém ficou ferido, mas os danos ao interior do edifício foram extensos.
A igreja foi aberta em 1888 e é uma das maiores do gênero no Cáucaso. Ela foi danificada durante um massacre de armênios em 1920 na região e, durante o longo reinado da União Soviética (1922-1991) sobre a região, praticamente abandonada.
Durante a guerra entre Armênia e Azerbaijão de 1992 a 1994, forças de Baku utilizaram o prédio como um depósito de armas — o país vizinho é majoritariamente muçulmano. A cidade onde fica, Shushi, foi retomada pelos armênios e em 1988 o prédio restaurado foi reinaugurado.
Ele é visto como um ícone da resistência local. Shushi é a segunda maior cidade da região separatista, e está sob ataque pela primeira vez desde a guerra dos anos 1990, ocorrida na esteira da disputa territorial após a dissolução do império comunista.
Também nesta quinta houve bombardeios na capital regional, Stepanarket, como tem ocorrido diariamente. Os relatos são imprecisos, mas até aqui não há informações de ganhos territoriais do Azerbaijão além das posições conquistadas ao redor dos sete distritos ocupados pelos armênios em 1994 para ampliar a proteção ao território de Nagorno-Karabakh.
Se isso se dá pela resistência armênia ou por tática deliberada de Baku, não é certo. A segunda hipótese, com o bombardeamento sistemático de posições com civis e de infraestrutura na região, parece mais forte por deixar os azeris numa posição de força para as eventuais negociações na região.
A retórica do presidente Ilham Aliyev evoluiu da mesma forma. Primeiro, ele disse que não haveria cessar-fogo sem uma retirada das forças armênias e da entrega do controle do território central em disputa. Depois, na quarta (7), admitiu negociar quando as operações cessassem.
Isso levou a rumores de que os armênios iriam declarar um cessar-fogo unilateral nesta quinta, o que foi negado pelo governo da autodenominada República de Artsakh, nome local de Nagorno-Karabakh — que é assim chamada desde os tempos soviéticos, quando foi deixada em mãos azeris para aplacar a pressão turca, aliada de Baku.
Pressão esta que segue intensa, dado que Ancara é a patrocinadora da atual ofensiva, apesar de negar envolvimento direto. Imagens de satélite analisadas pelo New York Times mostraram que pelo menos dois caças F-16 estão estacionados no aeroporto de Ganja, cidade azeri que foi atacada pelos armênios.
Isso reforça a narrativa de Ierevan de que os jatos participaram de apoio a ataques e até derrubaram um avião militar armênio na semana passada, algo que Ancara nega. Só a Turquia opera F-16 na região e, em julho, enviou ao menos cinco deles para um exercício conjunto com os azeris justamente em Ganja.
Nesta madrugada, também houve ataques de forças armênias que atingiram cidades azeris perto da fronteira de Nagorno-Karabakh.
Ainda na quinta, Rússia, Estados Unidos e França discutem a crise em reuniões em Genebra. Os três países formam o grupo que, desde 1992, tenta sem sucesso achar uma saída para o conflito.
O presidente russo, Vladimir Putin, admitiu na quarta que isso pode demorar, mas que um cessar-fogo seria imperativo. Moscou tem uma base militar na Armênia e, por tratado, deve defendê-la em caso de agressão externa.
Isso leva aos temores de uma guerra regional que oponha os russos, talvez com apoio iraniano, aos turcos. Mas as falas recentes de Aliyev sugerem que uma negociação está em curso. A Armênia, por sua vez, já disse que aceita fazer concessões para buscar a paz e reduzir a violência, a maior desde a guerra dos anos 1990.
Morreram até aqui 320 militares e 19 civis de Karabakh, além de 28 civis azeris. Baku não divulga suas baixas militares.
Diário da Paraíba com FolhaPress