Brasil cria 136 mil vagas de emprego formal em março, mas salários têm nova queda
O país registrou a criação líquida de 136 mil empregos com carteira assinada em março. Apesar do saldo positivo, os dados continuam mostrando desaceleração em relação ao ano passado e queda na média salarial dos contratados.
Os dados foram divulgados por meio do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apresentado nesta quinta-feira (28) pelo Ministério do Trabalho e Previdência. O saldo do mês resulta de 1,95 milhão de contratações e 1,81 milhão de desligamentos.
O resultado é 11% menor do que em março de um ano antes. Em janeiro, o saldo já havia sido 38% menor do que em um ano antes e, em fevereiro, a queda tinha sido de 17% no mesmo tipo de comparação. Para o ministério, a desaceleração em 2022 é natural após um 2021 de recuperação da economia.
O Ministério do Trabalho e Previdência afirma que os dados neste ano tendem a estar mais alinhados com o desempenho da atividade. O mercado espera que o país cresça 0,65% neste ano, de acordo com o mais recente boletim Focus, que traz estimativas de analistas compiladas pelo Banco Central.
O setor de serviços mais uma vez liderou a abertura de vagas (111,5 mil), embora mostre um ritmo menor do que em meses anteriores (em fevereiro, por exemplo, o saldo havia ficado positivo em mais de 200 mil). O destaque ficou a seção de transporte, armazenagem e correio (com 16,2 mil postos criados).
Em seguida na lista de maiores geradores de emprego, ficaram construção (25 mil vagas criadas), indústria (15,2 mil) e construção (apenas 352 postos). Já a agropecuária teve desempenho negativo e cortou 15,9 mil postos de trabalho.
Os dados neste ano sofrem influência da gradual eliminação dos efeitos do programa emergencial de manutenção de emprego e renda. Criada na pandemia, a medida foi considerada fundamental por especialistas para sustentar o mercado de trabalho durante o auge da crise da Covid-19.
Um reflexo disso começa a ser observado no número de pedidos de seguro-desemprego, que subiu 15% em relação a um ano antes e alcançou 674,6 mil requisições em março.
Bruno Dalcolmo, secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Previdência, afirma que o aumento de pedidos está ligado ao fim do programa, mas que as requisições estão abaixo de outros momentos de crise econômica. “Apesar de uma relativa elevação no número de solicitações, é um número ainda bastante inferior considerando o histórico recente do país”, afirmou
Nem todas as regiões tiveram resultado positivo neste mês. Houve criação de vagas no Sudeste (com abertura de 75,8 mil postos), no Sul (33,6 mil), no Centro-Oeste (20,2 mil) e no Norte (9,3 mil). Já o Nordeste fechou 4,9 mil postos de trabalho.
A criação de vagas contrasta com salários de admissão caindo novamente. Já são dois meses seguidos de retração, após as quedas consecutivas registradas ao longo de 2021 (depois de um intervalo de crescimento em dezembro do ano passado e em janeiro deste ano).
A remuneração média para quem foi contratado em março foi de R$ 1.872,07, queda real de 7,2% em relação a um ano antes. Segundo os técnicos, a menor remuneração é tradicionalmente observada em momentos de retomada do emprego.
Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, afirma que a queda nos salários de admissão decorre de um movimento de pessoas de menor qualificação se inserindo no mercado de trabalho formal -e de parte com maior qualificação recebendo menos do que antes.
A LCA atualizou no mês passado a projeção de saldo de empregos para 2022 de 895 mil para 1,1 milhão de postos formais. As melhores expectativas decorrem dos efeitos do Auxílio Brasil e dos saques extraordinários do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
“Este ano o saldo de vagas será influenciado pelo cenário econômico, que, apesar de sofrer com inflação e juros elevados, vem se beneficiando do pacote de estímulos feitos pelo governo para este ano para [o presidente Jair] Bolsonaro tentar a reeleição”, diz ele.
Folha Press