Caso Marielle: MP é acionado contra Carlos Bolsonaro por adulterar local de prova

A oposição já foi ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria Geral da República (PGR) por conta por conta dos desdobramentos do caso Marielle que envolvem a família Bolsonaro. Mesmo assim, anunciou uma nova ação nesta segunda-feira (4). Desta vez, a Rede vai representar especificamente contra o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) por adulteração do local de prova.

Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) argumentou que o segundo filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) não poderia ter tido acesso às gravações da portaria do condomínio em que mora no dia seguinte à divulgação do depoimento do porteiro que associa a casa da família Bolsonaro a um dos suspeitos do assassinato de Marielle Franco. Para Randolfe, a interferência de Carlos, que divulgou nas redes sociais uma das gravações da portaria para desmentir a matéria da TV Globo sobre o depoimento do porteiro, representa uma interferência nas provas que devem ser usadas na investigação do caso Marielle.

“No dia seguinte à matéria ser veiculada no Jornal Nacional, logo pela manhã, o vereador já estar no local apontando o que, no dizer dele, não correspondia à verdade da matéria veiculada anteriormente. Ele não poderia estar lá. Este era um ambiente para a perícia. Não podia, mesmo sendo morador do condomínio, ter acesso a material probatório de instrumento de investigação sobre um assassinato. Isso é gravíssimo”, reclamou Randolfe, que promete ir ao Ministério Público do Rio de Janeiro nesta terça-feira (5) protocolar essa representação contra Carlos Bolsonaro. “Carlos interferiu no local de prova. Tem que ser processado por conta disso”, defendeu o senador.

Na representação, será solicitada, então, a instauração de um inquérito que apure a ilicitude do comportamento do filho do presidente Bolsonaro. “O vereador Carlos Bolsonaro afirmou categoricamente que teve acesso e gravou ligações do sistema da portaria do condomínio, conforme postagem em rede social. Nem mesmo o Ministério Público do Rio de Janeiro teve acesso ao sistema e aos computadores, mas o vereador, filho do citado em depoimento teve. Tal conduta traz ainda mais dúvidas sobre o caso. Quem pode garantir o que foi feito ou não durante esses acessos?”, afirma a representação que será entregue ao MPRJ.

Randolfe também protocolou nesta segunda-feira (4) junto com o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), uma representação no Ministério Público do Rio de Janeiro pedindo uma nova perícia das gravações da portaria do condomínio da família Bolsonaro. Ele argumentou que, nunca antes desse caso uma perícia havia sido feita com tanta celeridade. A perícia que nega o envolvimento de Bolsonaro no caso – apresentada por três promotoras, inclusive a que pediu o afastamento do caso Marielle por ter tido a imparcialidade questionada depois de fotos em que ela aparece fazendo campanha para Bolsonaro – foi realizada em pouco mais de duas horas.

“Para que o caso fique esclarecido e não paire nenhuma suspeita ou desconfiança sobre o presidente, é necessário que haja outra perícia, independente”, afirmou Randolfe. O senador ainda provocou os Bolsonaro dizendo que, se a família de fato quer esclarecer o caso, deve autorizar a realização de nova perícia nas gravações. Como Bolsonaro, no entanto, admitiu ter recolhido essas gravações para evitar que elas fossem manipuladas, Randolfe e Molon ainda vão à Procuradoria Geral da República denunciar o presidente por obstrução de justiça.

AI-5

Acompanhado do presidente nacional da Rede Sustentabilidade, Pedro Ivo Batista; Randolfe Rodrigues ainda apresentou uma ação ao Conselho de Ética da Câmara pedindo a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) por conta das declarações em que o deputado sugere a volta do AI-5 caso a esquerda radicalize no Brasil. Segundo o senador, esta é apenas a primeira das representações desse tipo que serão apresentadas pelos partidos de oposição nos próximos dias.

“A democracia é um valor universal. Não se pode tramar contra ela. É um atentado humanitário o que está acontecendo. “Esta não é uma questão de disputa político-ideológica. Está acima de partidos políticos porque a democracia é inviolável. Não se pode tramar contra ela. […] É uma atitude tão drástica que vários partidos vão representar”, disse o presidente da Rede, lembrando que PT, PCdoB e PSol já prometeram pedir a cassação de Eduardo Bolsonaro ao Conselho de Ética da Câmara.

“Os parlamentares têm que cumprir regras de ética e decoro parlamentar. E ele se insurgiu contra o próprio juramento que ele fez. Ao tomar posse como deputado federal, ele prometeu fazer cumprir a Constituição da República. E não está lá na Constituição a possibilidade de ruptura democrática”, explicou Randolfe, contando que a representação acusa Eduardo Bolsonaro de decoro parlamentar. “O parlamentar desonrou o juramento que fez, atentou contra a Constituição. Não existe outro nome”, disse o senador, lembrando que até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já disse que essa atitude é grave e passível de punição.

Diário da Paraíba com Congresso em Foco

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