Desde janeiro, PF fez ao menos quatro operações contra braço financeiro de facção

Desde o início do ano, a Polícia Federal deflagrou ao menos quatro grandes operaçõescontra a principal organização criminosa que atua a partir dospresídios paulistas . As investidas têm tido como foco principal a tentativa de desarticular o núcleo financeiro da facção e levaram à prisão integrantes que atuavam na “tesouraria”.

Ontem, a ação feita em Minas Gerais, com mais de 30 presos, conseguiu identificar o contador nacional do grupo. Embora já estivesse preso por tráfico de drogas em Piraquara, no Paraná, o homem é tido como o responsável por abastecer as mais de 400 contas bancárias nas quais o dinheiro do tráfico de drogas é movimentado.

— Isso é realmente o que desarticula a facção criminosa. Só prender os traficantes, a gente tem visto que não está resolvendo. Tanto que seis investigados já estavam presos e continuavam praticando o tráfico de drogas. Prendendo o contador e desarticulando a rede de lavagem de dinheiro, esperamos que isso desestruture a maior facção criminosa organizada do Brasil — afirmou Alexander Oliveira, delegado da PF à frente da operação.

Em nove meses, a polícia conseguiu identificar movimentação de R$ 7 milhões pela facção paulista. O valor ainda está muito abaixo do que é controlado pelo grupo, de acordo com as investigações.

— É um universo pequeno. Foi o que a gente pôde identificar nessa operação, só o tráfico de cocaína movimenta semanalmente mais de R$ 5 milhões — disse o delegado.

A dificuldade para chegar não só às contas, mas principalmente a quem as movimenta, está na quantidade de pessoas que mantêm o controle financeiro. Muitas operações são feitas por parentes de presos ou por integrantes da organização sem qualquer acesso à cúpula. São os chamados “pés quebrados”, que atuam no baixo escalão. Outra dificuldade está nos valores depositados nessas contas, sempre abaixo de R$ 10 mil, para evitar que o banco comunique as movimentações a órgãos de controle.

Em maio, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo encontrou R$ 900 mil em poder dos criminosos. À época, mais de 20 pessoas foram presas. Numa outra investida contra a organização, a polícia descobriu, no mês passado, também em São Paulo, que a facção usava contas bancárias de novos membros para movimentar ao menos R$ 280 mil por mês.

No início da semana, a PF deflagrou uma operação para desarticular um dos braços financeiros do grupo criminoso paulista. Foram descobertos depósitos mensais entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão em 418 contas bancárias. O dinheiro era usado pelo bando para financiar crimes e manter sua rede funcionando em todo o território brasileiro. Os recursos custeavam de auxílio-funeral à hospedagem de familiares em visitas a presídios.

A mesma operação também interceptou ligações telefônicas de integrantes da facção. Em uma delas, a qual O GLOBO teve acesso, o grupo reclama da transferência de presos para o sistema federal, xingam o ministro da Justiça, Sergio Moro, e afirma que, em gestões anteriores, a organização criminosa e o Partido dos Trabalhadores (PT) tinham “linha de diálogo cabulosa”, mas que não podia falar do assunto por telefone.

Na transcrição de um dos diálogos, os integrantes da facção conversam sobre uma reportagem que informava a intenção do governo de transferir chefes do grupo da penitenciária 2, de Presidente Venceslau, interior de São Paulo, para o sistema federal, considerado mais rigoroso. Um deles reclama que, quando esses membros são removidos, os substitutos não têm autonomia para decidir no lugar deles, o que enfraqueceria a organização criminosa.

No Twitter, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, atribuiu a interceptação telefônica a suposta “armação” de Moro contra o PT e o acusou de uso político da PF: “Quem dialogou e fez transações milionárias com criminosos confessos não foi o PT, foi o ex-juiz Sergio Moro, para montar uma farsa judicial contra Lula”, publicou Gleisi.

O Globo