Discurso de ódio tem estimulado aumento da violência até contra os animais, diz ativista

O discurso de preconceitos e até de ódio contra as minorias e vulneráveis, às políticas públicas de bem-estar da sociedade e aos direitos humanos tem contribuído para o aumento da violência até mesmo contra os animais nas periferias e nos centros das grandes cidades do país. É o que avalia a ativista paraibana da causa animal Fabíola Rezende, presidente da Ong Ajude Anjos de Rua, sediada em João Pessoa.

De acordo com ela, o resultado da intolerância política e social apregoada com a ascensão da ideologia conservadora do atual governo federal pode ser observado concretamente, por exemplo, nas ruas e avenidas das cidades que integram a Região Metropolitana de João Pessoa, no que se refere aos maus tratos a animais.

“Nós últimos quinze dias, a avalanche de casos de crueldade contra os animais tem aumentado muito. Estamos no dia a dia fazendo os resgates e, a todo momento, recebemos pedidos de ajuda para animais vítimas da maldade de muitos. São cães e gatos, principalmente, sendo massacrados, mortos e mutilados todos os dias”, alerta Fabíola Rezende, acrescentando: “Algumas pessoas vão dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas temos constatado que, neste ano, os casos e a intensidade dos maus tratos têm crescido”.

Conforme a ativista, a insensibilidade em relação ao sofrimento dos animais sempre existiu por parte de uma parcela da população. Todavia, após discursos e posicionamentos a todo instante de uma “cultura da morte, de armar as pessoas, de recrudescimento das forças policiais em nome de um ilusório combate à violência e de ataques aos vários segmentos de organizações não governamentais, a insensibilidade à dor do próximo e dos animais tem aparecido mais”.

“Estamos numa sociedade em que as mulheres estão sendo maltratadas e mortas a todo o momento; o índio, o negro e o segmento LGBT são atacados e ameaçados constantemente; o trabalhador pobre, o velho e milhões de crianças e adolescentes estão perdendo os seus direitos e o amparo do estado; professores, estudantes, intelectuais e até os profissionais da imprensa estão sendo humilhados e sendo alvos de chacota governamental… Imaginem o que a causa animal vem constatando em relação ao massacre de animais no dia a dia”, desabafa Fabíola. “Discurso de ódio e intolerância é sim contagioso e está transformando a sociedade. O mal neste momento está vencendo”.

Apesar do quadro avaliado por ela, Fabíola afirma que o momento é de mobilização. “Mesmo diante desta situação, não vamos desanimar e, assim como a Ajude Anjos de Rua, outras ongs e associações, além dos protetores independentes, não vão desistir. Estamos fazendo a nossa parte, realizando os resgates dos animais de rua maltratados, apesar do aumento dos números de maus-tratos”.

Violência na capital

Para justificar sua preocupação e alerta, Fabíola Rezende exemplifica com os casos que vêm ocorrendo na cidade de João Pessoa, onde, somente nos últimos quinze dias, dezenas de cães e gatos foram mortos ou vítimas de maus tratos.

Um exemplo concreto foi registrado no último dia 2 de agosto, quando comerciantes do Mercado Público do Bairro da Torre denunciaram a morte no local de mais de 20 animais, entre gatos e cães. Eles amanheceram mortos ao redor dos estabelecimentos comerciais.

As mortes, segundo eles, teriam sido causadas por envenenamento em massa e não seria a primeira vez que aquele crime teria sido registrado na região. Até uma cadela, que ainda amamentava seus filhotes, foi assassinada no local.

Entre tantos outros casos registrados, Fabíola aponta outros dois ocorridos nos últimos quinze dias e que comoveram os voluntários que atuam na proteção animal na capital paraibana. Em um deles, um gato foi morto por enforcamento e encontrado dependurado na Rua Diogo Velho, no Centro de João Pessoa. Em outro, uma cadela com dois filhotes foram mortos às margens da PB-008.

Histórico

O Ajude Anjos de Rua, criado no dia 24 de novembro de 2015 e que hoje congrega milhares de seguidores nas redes sociais, se transformou oficialmente em uma organização não governamental no dia 31 de julho de 2016. Seu principal foco está nos animais que perambulam pelas ruas da capital, sem dono, sem abrigo, com fome, passando frio, calor e sede e, na maioria das vezes, sofrendo maus tratos e a falta de compaixão das pessoas.

Boa parte dos animais já resgatados pela Ong foi agredida, mutilada ou torturada, alvos da maldade humana; muitos foram vítimas de atropelamento; e outros tantos simplesmente padeciam de doenças provocadas pelo abandono, negligência e pela falta de responsabilidade de seus antigos donos.

Grande parte dos animais resgatados hoje goza de excelente saúde e convive feliz em um lar que os adotou, proporcionando-lhes alimento, carinho, abrigo, atendimento médico-veterinário, bem-estar e alegria. “Em troca, eles retribuem felicidade, prazer e amor animal aos seus novos donos. E tudo isso só é possível graças a uma rede de apoiadores, que se comunicam constantemente por meio das redes sociais, via Facebook e Whatsapp”, informa Fabíola Rezende, fundadora e presidente do Ajude Anjos de Rua.

A rede de colaboradores, apoiadores, protetores, militantes e simpatizantes da Ajude Anjos de Rua é grande, mas, na prática, os resgates são efetuados por alguns poucos. “Somos comunicados das ocorrências via rede social. Geralmente são casos de animais abandonados, atropelados ou sob maus tratos. Quando possível, vamos até ao local e fazemos o resgate, encaminhando o animal a uma das clínicas veterinárias parceiras. Acompanhamos o tratamento até o final; arranjamos alguém interessado na adoção do animal; e sempre monitoramos o animal na nova família”, explica Fabíola.

Diário da Paraíba