Familiares de jogador de futebol morto durante operação em Niterói negam confrontos na hora do crime

A família do jovem Dyogo Costa Xavier de Brito, de 16 anos,assassinado com um tiro nas costas nesta segunda-feira durante uma operação policial na comunidade da Grota, no bairro São Francisco, em Niterói, afirma que, no momento do crime, não havia confrontos na região. Familiares de Dyogo estiveram no Instituto Médico Legal de Niterói nesta terça-feira, por volta das 9h, para liberar o corpo. O enterro será às 15h, no Cemitério São Francisco Xavier, Charitas. Segundo a família, o tiro entrou pelas costas e saiu na barriga de Dyogo, na região da cintura.

— Meu neto descia a pé, passando pela via principal, com a mochila nas costas. Eu me aproximei e vi ele caído, com o rosto no chão. O PM ainda me falou que o meu neto era traficante. Não precisavam ter matado meu garoto, era só abordar e ver que a bolsa do Dyogo carregava a chuteira e o dinheiro da passagem de ônibus. Não tinha mais operação por lá. Balas perdidas podem acabar matando qualquer um, mas eles executaram o meu neto — afirma o motorista de ônibus Cristóvão Xavier, de 63 anos, avô de Dyogo, que passava pelo local na hora em que decidiu parar e ver se a pessoa que estava baleada era seu neto.

No momento em que foi baleado, Dyogo ia para a casa de um amigo na Tijuca, bairro mais próximo à sede do América, time pelo qual o jovem jogava nas categorias de base. O sonho do menino, de acordo com a família, era ser jogador de futebol. Ainda segundo Cristóvão Xavier, o neto era um garoto iluminado e querido por todos.

— Ele era bonito, gostava de andar bem arrumado. Tomara que a morte dele não seja mais uma estatística que nós sempre acompanhamos na imprensa. A minha vontade era, naquele momento, olhar bem no rosto do policial e perguntar se ele tem filho. Não tenho mágoa dele, mas se ele tiver filho, vai analisar e sentir o que estou sentindo. Eu só não queria estar passando por isso agora, ter que reconhecer o corpo do meu neto. Eu o peguei no braço quando ele nasceu, e o peguei quando morreu — conta o motorista, bastante emocionado.

O avô contou ainda que a mochila de Dyogo, que ficou no local em que ele foi baleado, desapareceu. Dentro dele, estavam a chuteira e R$ 85 em dinheiro.

O tio de Dyogo, o motorista de ônibus Mauro Francisco, de 47 anos, fez um apelo ao comando da PM e ao governador.

— Esses policiais, covardemente, mataram meu sobrinho. Eles não podem estar na corporação. Eles tinham que tirar a farda e entregar ao governo. Acabaram com a vida de um garoto sensacional, com educação maravilhosa. Peço ao comandante do COE e ao Wilson Witzel que esses militares sejam expulsos. Tem PMs inexperientes que não estão sabendo trabalhar. Fazem isso com nossos jovens, todos os dias. É preciso ter ordem, mas de forma certa — diz Mauro, referindo-se ao Comando de Operações Especiais (COE) que liderou a operação na manhã desta segunda-feira.

Após o jovem ser morto, moradores da Grota fizeram um protesto. Eles também acusam policiais pela morte de Dyogo. A ação contou com equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BpChq), Grupamento Aeromóvel (GAM) e Batalhão de Ações com Cães (BAC). Este ano, ele defendeu as cores da comunidade na edição da Taça das Favelas. Dyogo era conhecido como Dondom ou menino Coutinho. Nas redes sociais, vários amigos compartilharam homenagens e revoltaram-se com a morte. O rapaz chegou a ser levado à Policlínica do Largo da Batalha, mas não resistiu.

O América, clube onde Dyogo treinava, emitiu nota oficial lamentando a morte do jogador: “O America Football Club recebeu no fim da tarde desta segunda-feira, com imensa tristeza e perplexidade, a notícia da morte de Dyogo Xavier Coutinho, de 16 anos, que treinava no plantel de atletas da categoria sub-17 de nosso clube. Dyogo ainda não era atleta federado, mas integrava um grupo específico de atletas mais jovens da referida categoria que disputava torneios não oficiais”, diz o texto.

Cristóvão, que cuida do neto desde pequeno, conta que esta noite foi a mais difícil de sua vida:

— Ele dormia comigo e com a avó dele, vivia jogando as pernas em cima da gente. Nós até falávamos que eram pesadas, brincando com ele. Mas esta noite não teve isso. Passei a noite pensando, toda hora vinham as lembranças.

Segundo a mãe de Dyogo, a assessora administrativa Josyane Costa, de 32 anos, o filho era um adolescente alegre e amado por quem o conhecia. Além de Dyogo, ela é mãe de Ryan, de 12 anos.

Para simbolizar o amor pelos filhos, Josyane carrega no corpo uma tatuagem com os nomes dos jovens:

– Não tenho o que falar, ele era um garoto muito especial. A vida dele era o futebol, tinha o jogador Cristiano Ronaldo como ídolo— disse.

Em nota, a Polícia Civil diisse que policiais militares envolvidos na operação que acabou com a morte do rapaz serão chamados para prestar depoimento.

Abaixo, a íntegra do documento.

” De acordo com a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) foi instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de Dyogo Coutinho, na comunidade da Grota, em Niterói, nessa segunda-feira (12/08). O adolescente chegou a ser socorrido ao hospital, mas não resistiu. Familiares foram ouvidos e policiais militares também estão sendo chamados para prestarem depoimento. Diligências estão sendo realizadas e as investigações estão em andamento.”

Extra