O presidente Jair Bolsonaro (PSL) confessou nesse sábado (2) que pegou os áudios das ligações realizadas entre a portaria e as casas do condomínio Vivendas da Barra, onde tem residência no Rio de Janeiro, antes que os áudios fossem, segundo ele, adulterados. Bolsonaro não especificou, contudo, quando retirou os arquivos da portaria. Se antes ou após o depoimento do porteiro que disse ter liberado a entrada de um dos suspeitos de matar a ex-vereadora carioca Marielle Franco (PSol) e seu motorista, Anderson Gomes, após autorização dada pelo morador da casa 58, identificado por ele como o “Senhor Jair”.
“Agora, eu estava em Brasília, está comprovado. Várias passagens minhas pelo painel eletrônico da Câmara, com registro de presença, na quarta-feira geralmente parlamentar está aqui. Eu estava aqui, não estava lá, e outra, nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de anos, a voz não é minha. Não é o seu Jair. Agora, que eu desconfio, que o porteiro leu sem assinar ou induziram ele a assinar aquilo. Induziram entre aspas, né? Induziram a assinar aquilo”, declarou a jornalistas durante visita a uma concessionária na capital federal, onde comprou uma motocicleta (na foto).
Bolsonaro acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de manipular o processo sobre o assassinato de Marielle e Anderson, segundo o presidente, para incluir seu nome.
“A minha convicção é de que ele agiu no processo para botar meu nome lá dentro. Espero agora que não queiram jogar para cima do colo do porteiro. Pode até ser que ele seja responsável, mas não podemos deixar de analisar a participação do governador. Como é que pode um delegado da Polícia Civil ter acesso às gravações da secretária eletrônica?”, questionou.
Ele se referiu a Witzel ao ser questionado sobre o afastamento da promotora de Justiça Carmen Eliza Carvalho, que fez campanha eleitoral para ele nas redes sociais, do caso. Carmen também divulgou foto em que aparece ao lado do deputado estadual que quebrou placa em homenagem à ex-vereadora. Condutas consideradas graves pelo jurista Antônio Rodrigo Machado, ouvido pelo Congresso em Foco.
“Olha só, deve ter no meio de vocês gente que votou em mim, deve ter, com toda a certeza. Agora, a promotora resolveu sair, está certo? (…) Agora, quem está por trás disso? Eu não tenho dúvida, governador Witzel, que só se elegeu graças ao meu filho, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que colou nele o tempo todo, chegando, um mês depois, virou nosso inimigo. Começou a usar a máquina do estado para perseguir o Flávio, o Carlos agora também, o Hélio Negão, tudo quanto é amigo meu estão sendo investigados agora lá no Rio de Janeiro”, acusou o presidente.
Bolsonaro conta que foi alertado por Witzel, em 9 de outubro, que o inquérito do caso tinha sido enviado para Brasília devido à citação de seu nome em um depoimento.
O presidente da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, criticou a pressa com que foi divulgado o resultado da perícia nas gravações da portaria do condomínio onde Bolsonaro mora no Rio de Janeiro.
“Aparentemente, do que se extraiu da imprensa, foi uma análise muito superficial, não contemplou todos os vestígios disponíveis e foi feito de uma forma muito célere. Talvez fosse necessário um aprofundamento maior, colher outros tipos de vestígios, sejam eles vestígios físicos, que estavam na guarita, como o computador, circuito interno de tevê, uma cadeia de custódia para que se tenha uma conclusão aprofundada dos fatos”, disse Camargo.
O padrão de uma perícia, em média, é de 30 dias para se anunciar o resultado. Nesse caso, tudo ocorreu em poucas horas. “Um exame desses é bem mais prolongando, bem mais longo. Fazer um parecer, uma análise técnica superficial, preliminar, é possível fazer. Mas para um laudo pericial, com a profundidade científica que se exige para o processo penal, é um tempo rápido para se ter uma conclusão como essa”, afirmou.
Carmen e outras duas promotoras que participam das investigações do caso Marielle concederam uma coletiva no dia seguinte após a divulgação da reportagem do Jornal Nacional que fazia referência à inclusão do nome de Bolsonaro. Segundo elas, o porteiro ao dizer que tinha liberado o suspeito Élcio Queiroz após receber autorização do “senhor Jair”. Naquela data, Bolsonaro estava em Brasília. O procurador-geral da República, Augusto Aras, recém-nomeado pelo presidente, disse que a citação do nome de Bolsonaro era apenas um “factoide”.
Diário da Paraíba com Congresso em Foco – Foto: Marcello Casal Jr.
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