De acordo com relatos, criminosos invadiram o terreiro da comunidade, mantiveram familiares reféns e executaram Mãe Bernadete a tiros. Sua morte ecoa o trágico destino de seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, também conhecido como Binho do Quilombo, que foi assassinado há quase seis anos, em setembro de 2017.
Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), declarou que Bernadete foi vítima do mesmo grupo que havia executado seu filho Binho. Segundo ele, Bernadete nunca se calou diante da injustiça e estava ciente das circunstâncias que envolveram a morte de seu filho. “Agora foi silenciada. Muito triste para nós”, lamentou Denildo.
A região de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, enfrenta uma constante ameaça de grupos ligados à especulação imobiliária, que buscam ocupar os territórios quilombolas. A capital da Bahia é apontada pelo Censo Quilombola do IBGE como a capital com a maior população quilombola do país, abrigando quase 16 mil quilombolas e cinco quilombos oficialmente registrados.
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) emitiu uma nota exigindo ação imediata do Estado brasileiro para proteger as lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. A entidade destacou a importância de uma investigação ágil e eficaz para responsabilizar os envolvidos nos crimes que têm vitimado líderes quilombolas.
Uma comitiva liderada pelos ministérios da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos está programada para visitar a Bahia e realizar reuniões presenciais com órgãos do estado, prestando apoio às vítimas e familiares, com o objetivo de garantir a proteção e defesa dos territórios quilombolas. O Ministério da Igualdade Racial convocará uma reunião extraordinária do grupo de trabalho de enfrentamento ao racismo religioso.
O Quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Mãe Bernadete, é composto por cerca de 289 famílias e abrange 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Apesar de já ter sido certificada pela Fundação Palmares, o processo de titulação do quilombo ainda está em andamento.
Um levantamento realizado pela Rede de Observatórios de Segurança, com apoio das secretarias de segurança pública estaduais, indicou que a Bahia é o segundo estado do Brasil com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais, registrando 428 vítimas de violência entre 2017 e 2022. A violência crescente enfrentada por essas comunidades ressalta a urgência de medidas efetivas para proteger suas lideranças e garantir seus direitos fundamentais.
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