Monteiro volta a sediar manifestação popular em defesa da Transposição

Neste domingo (1º), o município de Monteiro, no Cariri paraibano, mais uma vez vai se transformar na capital nordestina em defesa da transposição das águas do Rio São Francisco. A cidade, que integra a rota do Eixo-Leste da obra, sediará o ato popular ‘SOS Transposição – Grito do Nordeste’, pelo retorno do funcionamento do projeto inaugurado em 2017 e que está paralisado pelo governo Jair Bolsonaro (PSL).

O ato, segundo o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), representa na essência um grito promovido e provocado por uma necessidade de defender uma obra estratégica e estruturante para o Nordeste; e também diante da paralisação do bombeamento de água desde fevereiro deste ano pelo governo federal, com a redução drástica do volume dos açudes.

Ele lembra, por exemplo, que o Açude de Poções, em Monteiro, está com apenas 5% de sua capacidade; Camalaú só tem 6%; e Sumé com 5,5% da sua capacidade. “Ou seja, todos os açudes da região estão no volume morto. Isso significa que, dentro dos próximos dias, você vai ter todas as cidades retornando para o sistema de racionamento. Isso é inadmissível quando você tem água a poucos quilômetros e o governo suspende este bombeamento”.

Para Ricardo, o ‘Grito do Nordeste’ é uma manifestação popular. “Esse grito, esse evento, essa manifestação, vem da necessidade do próprio povo do Cariri, do povo paraibano”, destaca, lembrando que a Paraíba é o estado com a melhor distribuição das águas do São Francisco. “Nenhum estado do Nordeste terá a distribuição das águas como nós teremos aqui na Paraíba”.

Todo o Cariri, conforme o ex-governador, é coberto pelas águas do São Francisco, porque tem o Rio Paraíba. “Nós já construímos a primeira parte, que eu não inaugurei, mas está pronta, entre o Canal Acauã e Araçagi, até o Rio Gurinhém. Com a conclusão desse canal, as etapas dois e três, você vai ter a água indo lá para a região norte do estado, com a possibilidade e capacidade de abastecer todo o Brejo, como Guarabira que já é abastecida por Araçagi; e o litoral norte, Mamanguape, Itapororoca… Ou seja, as águas do São Francisco cobrem essa região também”.

“Ainda tem toda a Região do Curimataú, onde deixei recursos próprios do estado para o maior sistema adutor que a Paraíba já construiu, que é o Sistema Adutor do Curimataú, a Transparaíba”, complementa. “A água do São Francisco vai chegar a todo o Curimataú, com mais de 160 mil pessoas sendo beneficiadas, incluindo Araruna, Dona Inês, Cacimba de Dentro…”, prevê Ricardo.

Ele lembra que, em relação ao Eixo-Norte da Transposição, só faltam 12 quilômetros para a sua conclusão, o que seria muito pouco, 3% do total da obra, “É um absurdo. Quatro anos com essa obra parada. O prejuízo que ela está tendo e dando… Mas quando esta água chegar, você vai ter aí o Alto Sertão, as regiões de Cajazeiras, Sousa, Pombal, Catolé do Rocha, todas elas cobertas, e com a possibilidade de descer para Patos”.

A Paraíba, reforça o ex-governador, é indiscutivelmente o estado mais beneficiado e sem ter grandes obras. “A malha hídrica dos nossos rios no estado nos favorece. Você entra um pouquinho de nada em Monteiro e já pega o Rio Paraíba”.

Obra estratégica

Na avaliação de Ricardo Coutinho, a obra é estratégica “e tê-la paralisada ou sem ser operada é um crime”. Ele ressalta: “E o povo, lideranças políticas, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, movimentos sociais – e eu no meio disso também –, claro, estamos todos nos movimentando para dizer ao Brasil que não é possível que se destrua uma obra tão importante para o Nordeste setentrional, como é a Transposição do São Francisco.

Na questão da manutenção, o governo federal tem alegado que são R$ 300 milhões ao ano nos dois eixos da Transposição. “Um governo que diz isso e acabou de passar na Câmara dos Deputados, dentro da reforma da Previdência, uma renúncia fiscal de R$ 84 bilhões. O que isso significa: trinta vezes o custo anual de uma transposição totalmente concluída, o que não é o caso hoje. Ou seja, é algo impensável. E a transposição não é só para as pessoas beberem água, o que por si só já justificaria, mas a transposição é fundamental no ponto de vista econômico”.

E continua Ricardo: “No Cariri, nós começamos a distribuir sementes, organizamos plantios de até meio hectare, sistemas de irrigação, muitos com financiamento de energia solar, tudo isso está sendo feito e tudo isso está se perdendo por falta de água”.

Ele lamenta que a situação afeta a indústria da caprinocultura no Cariri, que é a maior do Brasil. “Nós somos o maior produtor de leite de cabra do país”, lembra Ricardo. “E ela pode se expandir muito mais. Hoje se produz de 25 a 30 mil litros de leite por dia… Mas tem que ter água. Sem ter água não há como. Além de todas as outras indústrias que compõem um pensamento de desenvolvimento local integrado. Não há outro caminho, nós temos que ter água”.

A transposição, aponta o ex-governador, é uma obra extremamente barata. O investimento foi de R$ 12 bilhões. “Isso não é nada, sendo que o número inicial de nordestinos a serem beneficiados seria de 12 milhões. Na Paraíba, a proposta inicial seria de 850 mil pessoas beneficiadas. Só hoje nós já temos R$ 1,05 milhão e vamos ter mais 160 mil do Curimataú… Fora o Brejo e as expansões que estão sendo naturalmente pensadas por conta da rede de adutoras que nós implantamos”.

E finaliza ele: “Então, se você dividir R$ 12 bilhões por 12 milhões de pessoas, você vai ter R$ 1 mil por nordestino beneficiado… Essa obra demorou 12 anos; mas pondo aí dez anos, são R$ 100,00 por ano… Isso mostra que é uma obra muito barata”.

Diário da Paraíba (Jorge Rezende) – Foto: Roberto Guedes