Morre o cantor e compositor paraibano Cassiano, autor de grandes sucessos do soul music brasileiro

Morreu na última sexta-feira (07), no Rio de Janeiro, vítima de uma arritmia cardíaca o cantor Genival Cassiano ou apenas Cassiano como ele foi conhecido a maior parte de sua carreira. A informação foi confirmada por uma sobrinha do artista. Nascido em Campina Grande em 16 de setembro de 1943, o músico e compositor Cassiano era considerado um dos pais do Soul no Brasil. Ele era autor da música Primavera (Vai Chuva) e outras canções que foram sucesso na voz do seu amigo, Tim Maia.

Cantor e compositor, Genival Cassiano dos Santos é desconhecido por gerações mais jovens porque sofreu um grave problema respiratório no final dos anos 1970. Ele perdeu um dos pulmões e cantar passou a ser muito difícil.

Amizade com Tim Maia

Cassiano, o irmão Camarão e o amigo Amaro fundaram Os Diagonais, uma célula de soul que começou a atrair a atenção -principalmente de outros artistas. Aí Tim Maia entrou na história.

Voltando de um período nos Estados Unidos, ele descobriu em Cassiano outro fã de Marvin Gaye, Otis Redding e Stevie Wonder. Tim, Os Diagonais e Hyldon, baiano que tentava a sorte no Rio, foram fundamentais a partir do final da década de 1960 para a criação de uma cena de black music carioca.

São quatro músicas de Cassiano no disco “Tim Maia”, de 1970: “Você Fingiu”, “Padre Cícero”, essa em parceria com Tim, “Eu Amo Você” e “Primavera (Vai Chuva)”, ambas escritas com Silvio Rochael e grandes sucessos nas rádios.

Carreira Solo

A repercussão de “Tim Mais” trouxe a Cassiano a chance do primeiro álbum solo, “Imagem e Som”, em 1971. Estão nele a versão do autor para “Primavera (Vai Chuva)” e duas parcerias com Tim, “Tenho Dito”e “Ela Mandou Esperar”.

Nas décadas seguintes, esse disco foi ganhando seu reconhecimento como uma sofisticada mistura de bossa, samba, soul e funk, mas não teve na época do lançamento uma grande repercussão. Faltava, além da conhecida “Primavera (Vai Chuva)”, outra faixa com cara de hit radiofônico.

Veio então “Apresentamos Nosso Cassiano”, em 1973, e a carreira ainda não decolou. Produzido por Pedrinho da Luz, então guitarrista da bem-sucedida banda The Fevers, as canções de Cassiano ganharam um verniz pop.

Mas há momentos de quase psicodelia e um eco de rock progressivo, em formato muito distante da canção fácil de assobiar. Tocar no rádio, que era bom, nada.

A partir de 1975, Cassiano explodiu em todo o país com dois singles consecutivos que grudaram nos ouvidos: “A Lua e Eu” e “Coleção”. Duas baladas soul compostas em parceria com Paulo Zdanowski, são irretocáveis, perfeitas no gênero.

O sucesso delas foi turbinado por um empurrão importante na época: a inclusão em trilha de novela global. “A Lua e Eu” entrou em “O Grito”, e “Coleção” foi usada em “Locomotivas”.

Com essas duas músicas no repertório, o álbum “Cuban Soul”, de 1976, se tornou o disco referência de seu trabalho, ainda hoje disputado em sebos por preços bem salgados. Mas mesmo esse sucesso não facilitou a relação de Cassiano com as gravadoras.

Em 1978, a CBS abortou o trabalho de um quarto álbum, por considerar o cantor um produto “difícil”, sem retorno financeiro garantido. Na época, os problemas de saúde começaram e ele ficou fora de circulação até 1984, quando retomou a carreira em ritmo bem mais brando.

O álbum seguinte só veio em 1991, “Cedo ou Tarde”, e seria também seu último. As gravações tiveram participação de Marisa Monte e de três nomes claramente influenciados por ele – Sandra de Sá, Ed Motta e Claudio Zoli. Um trabalho morno, que Cassiano renegaria anos depois, dizendo-se sem poder de decisão no estúdio, cedendo a pressões dos produtores.

Os quatro álbuns de Cassiano são difíceis de encontrar nas lojas. Mais acessíveis são algumas coletâneas caça-níqueis, editadas com repertórios quase idênticos.

Mais interessante para quem ainda não conhece bem a primeira fase do soul brasileiro podem ser as coletâneas “Velhos Camaradas”, de 1999, e “Velhos Camaradas 2”, de 2001, divididas entre sucessos de Cassiano, Tim Maia e Hyldon, o trio que foi alicerce daquela cena black no Rio entre 1969 e 1975.

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