Os argentinos foram às urnas neste domingo (27) para pedir um novo giro de 180 graus na gestão da política da nação. Os peronistas Alberto Fernández e Cristina Kirchner, da Frente de Todos, se sagraram vencedores em primeiro turno. Com 89% das urnas apuradas, Fernández está com 47,7% dos votos, quantidade que já o coloca na presidência. Na Argentina o candidato precisa de 45% dos votos mais um para se eleger.
Com grande adesão, as eleições argentinas de 2019 geraram grande expectativa e renderam ao país semanas de tensão, principalmente no campo econômico. Após as primárias, realizadas em 11 de agosto, o dólar disparou e se abriu espaço para especulações de toda sorte, o que agravou ainda mais a crise que o país vive.
Agora, a expectativa é de que a partir desta segunda-feira (28), a disputa eleitoral fique para trás junto com as especulações e incertezas do mercado. Para o futuro, os argentinos esperam superar a recessão e retomarem o caminho do crescimento.
O país enfrenta uma das suas piores crises, o que descortina uma série de desafios para o novo governo que assume a partir de 10 de dezembro. Na gestão de Macri, os indicadores sociais chegaram aos piores índices em 13 anos – a pobreza atinge 35% da população – e a inflação é a mais alta desde 1991. Soma-se a isso o endividamento com o FMI, a queda do PIB por dois anos consecutivos, uma política cambial que levou o dólar a somar uma alta de 60% este ano com um resultado de perdas salariais na casa dos 20%.
Além disso, o país enfrenta um problema de liquidez, com suas reservas de dólares diminuídas drasticamente por conta da crise. Só este ano, as reservas em dólares reduziram em torno de 40%, passando de 65,8 bilhões de dólares para 46,8 bilhões neste mês de outubro. As reservas brasileiras, por exemplo, somam 376,4 bilhões de dólares (oito vezes mais).
A escassez de dólares obrigará Fernández a rever os cronogramas da dívida externa e vai exigir criatividade para acalmar os ânimos e impedir que saiam mais dólares do país. Fernández fala em pacto social e precisará contar com a paciência do argentino para mudar o cenário o mais rápido possível.
Ele promete um governo de “emergência”, mas até o momento não deu ainda sinais concretos de como deve ser estas política. Ele ainda tem dito que vai promover a destinação de 1,5% do orçamento para a primeira infância e isentar de impostos itens da cesta básica.
Nas últimas semanas, fez acenos, como o de garantir os depósitos em dólar e de designar já no primeiro dia após as eleições um emissário para controlar as reservas do país. Ele descartou a possibilidade de calote, e assumiu postura conciliadora com o FMI, com quem promete renegociar as dívidas deixadas por Macri.
Presença maciça nas urnas
Estavam habilitados para votar 33,8 milhões de argentinos para escolher entre um dos seis candidatos na corrida presidencial, para renovar parte do Congresso, eleger governadores das províncias de Buenos Aires, Catamarca e La Rioja e para prefeito na capital do país.
Também foi massiva a participação dos argentinos que vivem no exterior, onde 385 mil estavam habilitados. Filas foram registradas nas embaixadas, principalmente na Europa e Estados Unidos. Os argentinos tiveram que aguardar mais do que esperado para votar no Kênia. Madrid, Londres, Miami, Washington e Santiago de Chile.
Segundo registros oficiais, em 2015 apenas 3 de cada 100 argentinos residentes no exterior votaram, um total de 10 mil pessoas. Para esta eleição, que ainda não divulgou os dados oficiais, a tendência é que este voto fora do país tenha crescido consideravelmente.
Quem é Alberto Fernández
Fernández foi chefe de gabinete da presidência entre 2003 a 2008, durante toda a presidência de Néstor Kirchner, e durante parte da presidência de Cristina Fernández, com quem rompeu e deixou o governo em 2008. Ele também foi também vereador de Buenos Aires durante o período de 1999 a 2003.
Típico portenho universitário, filho de um juiz, Fernández é advogado, especialista em direito penal e professor titular da Universidade de Buenos Aires. Foi funcionário do Tribunal Federal de San Isidro, na década de 1980.
Após deixar o governo de Cristina Kirchner (2007-2015) em 2008, passou a ser um forte crítico do que ficou conhecido como Kirchnerismo. Sua escolha para encabeçar a chapa que levaria a sua ex-chefe como vice-presidente se deveu a uma série de fatores. Cristina Kirchner detinha parte do núcleo duro das alas do peronismo de esquerda, mas para enfrentar Macri nas eleições de 2019 precisava mais que isso. Além disso, Cristina enfrenta processos na Justiça em casos de corrupção, supostamente cometidos durante sua gestão. O mais conhecido é o caso dos cadernos, onde o motorista Oscar Centeno teria registrado anotações de cobrança de propina de empresários por parte de membros do governo.
Foi aí que surgiu Fernández, que estava há pelo menos dois anos afastado da política ativa. Com a base garantida de Cristina, o advogado criminalista se encarregou de buscar os votos dos insatisfeitos com a gestão de Macri, que levou o país à recessão profunda que perdura desde abril de 2018.
Tido como de perfil moderado, um peronista progressista, como ele mesmo diz, Fernández se apresentou como candidato que tem capacidade de conversar com os setores mais liberais. Já nas primárias, quando obteve 48% dos votos, conseguiu imprimir a tendência que as urnas confirmaram neste domingo, conseguindo uma vitória em primeiro turno.
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