A fumaça das queimadas que ocorrem entre o centro e o sul da África, na altura da República Democrática do Congo, Zâmbia e países vizinhos, está alcançando o litoral do Nordeste.
Na Paraíba, o diretor técnico da rede de observação da Associação Paraibana de Astronomia (APA), Marcelo Zurita, identificou que o pôr do sol está mais avermelhado recentemente, algo normalmente percebido somente na época de colheita da cana, o que não é o caso.
Segundo o Centro de Monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), setembro começou com 10 focos de queimadas ativos na Paraíba e foram registrados 103 até o fim de agosto deste ano, número pouco menor que os 102 vistos no mesmo período de 2018.
A partir de imagens de satélite, a APA concluiu que a alteração na coloração do céu de João Pessoa não vem das queimadas no estado, mas das que ocorrem no continente africano, que estão espalhando fumaça também no litoral do Nordeste por meio de correntes de vento que atravessam cerca de 6 mil km do Oceano Atlântico.
O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), ligado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), informou ao UOL que as capitais nordestinas mais atingidas pela fumaça vinda da África são Natal (RN), Maceió (AL), Recife (PE) e João Pessoa (PB).
“O índice de poluição por esse material particulado está entre 50 e 100 microgramas por métro cúbico (µg/m³)”, informou o Lapis à reportagem do UOL, confirmada pelo laboratório, esclarecendo que a fumaça causou uma elevação de até três vezes mais do que o nível máximo de poluição recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 25 µg/m³.
Em Fortaleza (CE), a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) identificou, por meio de fotografias, que o céu da capital cearense apresentou-se, pontualmente, menos límpido e com visibilidade horizontal reduzida.
“Usando informações provenientes do Serviço de Monitoramento da Atmosfera pelo Programa Copernicus (CAMS), foi possível comprovar que aerossóis (partículas sólidas suspensas na atmosfera) resultantes da queima de biomassa na África estavam, em determinados momentos, conseguindo chegar ao Ceará, principalmente no norte do estado”, explicou o meteorologista da Funceme, Raul Fritz.
Fritz salientou ainda que, no norte da região Nordeste, os aerossóis têm chegado em menor concentração em virtude da longa distância percorrida, porém numa forma suficiente para produzir alterações na visibilidade e cor do céu, notadamente próximo ao pôr do sol.
“No monitoramento do movimento do monóxido de carbono (CO) liberado pelas queimadas na atmosfera, feito pela National Aeronautics and Space Administration (Nasa), é possível observar esse gás chegando no norte do Nordeste vindo da África. Também se vê, na figura, o gás liberado pelas queimadas na Amazônia”, disse o meteorologista.
As queimadas no Brasil, principalmente na Amazônia, ganharam destaque mundial após dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontarem o crescimento de 82% em relação ao ano de 2018, ao se comparar com o mesmo período de janeiro a agosto. No Brasil, foram 71.497 focos neste ano, contra 39.194 no ano passado.
Diferente do que se observa em relação ao continente africano, as partículas geradas pelas queimadas na Amazônia não chegam ao Nordeste devido à circulação dos ventos.
“Ela [circulação] teria que ser contrária a que se apresenta atualmente. Já da África, a gente vê que o movimento deles [aerossóis] se dá em nossa direção, ou seja, com propagação de leste para oeste”, finalizou o meteorologista da Funceme.
As recomendações gerais do Ministério da Saúde para prevenir ou combater os efeitos da poluição atmosférica são:
- Usar soro fisiológico no nariz;
- Beber água com frequência;
- Fechar as janelas nos horários de pico de congestionamento para evitar a fumaça que sai dos escapamentos dos veículos;
- Praticar exercícios físicos com regularidade, evitando escolher locais próximos às grandes avenidas também em razão da fumaça dos escapamentos, e evitando também os horários entre 12h e 16h, em razão da possibilidade de alta concentração de ozônio;
- Usar umidificadores nos ambientes e recorrer à inalação de soro fisiológico, quando necessário.