SÃO PAULO — Amostras simples de saliva mostraram ser uma base mais confiável para detectar o novo coronavírus do que as amostras de muco atualmente usadas, coletadas no nariz e na garganta. O método também tem a vantagem de expor quem faz a coleta a um risco menor.
A conclusão está em um estudo publicado por cientistas da Universidade Yale, que conduziram testes em 142 indivíduos num hospital de New Haven, em Connecticut (EUA), para comparar as duas técnicas.
“Nosso estudo demonstra que a saliva é uma alternativa viável e preferível aos swabs na nasofaringe para a detecção do Sars-Cov-2“, escreveram os pesquisadores em artigo depositado no portal de estudos preliminares MedrXiv.
O uso de cotonetes médicos do tipo swab para a coleta de amostras de muco usadas nos testes diagnósticos de Covid-19 são um procedimento desconfortável e que não pode ser realizado pelos próprios pacientes, expondo trabalhadores de saúde a riscos de contaminação.
Liderados por Anne Wyllie, da Escola de Saúde Pública de Yale, os pesquisadores fizeram o teste coletando amostras dos mesmo pacientes por duas vias. Enquanto algumas amostras eram obtidas com a inserção nasal profunda do swab, para outras o indivíduo era solicitado a cuspir algumas vezes em copinnhos padrão para coleta de urina.
O estudo de Yale envolveu tanto pacientes internados quanto profissionais de saúde em situação de risco, que coletavam suas próprias amostras para o exame de RT-PCR, que detecta material genético do vírus.
“Descobrimos que a sensitividade da detecção de Sars-CoV-2 da saliva é comparável, quando não superior, aos swabs de nasofaringe no início da hospitalização”, escreveram os cientistas.
Segundo o grupo de Wyllie, o que motivou a pesquisa foi a constatação em estudos anteriores de que o vírus estava presente em algum grau na saliva e os problemas decorrentes do método tradicional de coleta.
Como a inserção do swab na nasofaringe é um procedimento incômodo, é comum que provoque nos pacientes uma reação de espirro ou tosse, o que expõe a pessoa que coleta a amostra.
Como o procedimento não é fácil para leigos executarem, a coleta acaba exigindo a presença de profissionais de saúde, que se expõem e precisam de equipamentos de proteção individual.
A coleta de saliva, diz Wyllie, pode ser feita pelo próprio paciente de maneira confiável, o que pode significar uma economia importante de material e recursos humanos num momento em que poucos países têm realizado tantos testes de Covid-19 quanto gostariam.
“Ao final, demonstramos que a saliva pode ser considerada um tipo confiável de amostra, para aliviar as demandas de teste da Covid-19”, afirmam os cientistas.
O Globo