O governo do Uruguai observou uma forte redução no tráfico ilegal de maconha nos quatro primeiros anos após a legalização sob controle estatal. Mas, segundo a polícia, as apreensões se mantiveram mais ou menos constantes desde a adoção dessa medida, pioneira em todo o mundo. A contradição, que ainda não tem uma explicação clara, exemplifica as dificuldades para se medir o avanço real do narcotráfico ligado à maconha.
Em 2014, quando foi aprovada a lei que se autorizou o cultivo próprio e os clubes canábicos, a Junta Nacional de Drogas começou a monitorar os efeitos da lei através de uma pesquisa realizada com adultos que declaravam consumir maconha, perguntando como conseguiam se abastecer. Entre 2014 e 2018, o tráfico de maconha prensada proveniente do Paraguai e o comércio ilegal da substância caíram cinco vezes.
Além disso, uma em cada três pessoas que consumiram maconha em 2018 recorreram ao mercado regulado pelo estado, mediante a compra em farmácias (implementada em 2016), o autocultivo ou a associação a um clube registrado. Para Marcos Baudean, sociólogo e consultor da Junta Nacional de Drogas, estes resultados mostram claramente o sucesso da experiência uruguaia, única no mundo, já que não só legaliza, mas também deixa a produção da droga sob controle estatal.
“No que se refere ao narcotráfico, trata-se de resultados contundentes, ainda mais positivos se você levar em conta que nestes anos o consumo problemático de maconha se manteve estável em 16% dos pesquisados, e que a idade de início do consumo está se retardando e a média está em 25 anos”, argumenta Baudean.
Mas as coisas não são tão simples. Enquanto eram divulgados estes dados, o semanário Búsqueda citava fontes policiais para informar que o negócio dos narcotraficantes de maconha continua ativo. A Direção Geral de Repressão ao Tráfico Ilícito de Drogas apreendeu neste ano mais de duas toneladas de drogas diversas, com uma clara maioria de maconha. Esta cifra foi algo superior em 2018 (2,4 toneladas) e em 2017 alcançou 1,9 tonelada. Os policiais citados pela publicação consideram que a legalização não está tendo efeitos contundentes sobre um negócio extremamente rentável, que inclui muitas outras drogas além da maconha.
Por enquanto, há poucas explicações sobre a estabilidade nas apreensões da erva. Marcos Baudean diz que “um aumento das apreensões não tem por que significar um aumento do narcotráfico”, e destaca que os dados policiais incluem todos os tipos de drogas. Outra das razões, citada também do lado policial, é que o estado nunca conseguiu satisfazer a demanda nas farmácias, pois só há 19 estabelecimentos no país vendendo a droga no varejo, e muitas vezes formam-se longas filas para comprá-la, ou há desabastecimento.
Segundo as cifras do Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Ircca), atualmente há 38.771 pessoas habilitadas a comprar nas farmácias, 7.922 autocultivadores legais e 4.246 sócios de clubes canábicos. Os menores de idade não são autorizados a consumir a maconha regulada, mas a legalização da droga gerou muita preocupação sobre o comportamento dos adolescentes. Segundo o estudo governamental, o consumo dos menores de idade se estabilizou nos últimos anos.
Diário da Paraíba com El País
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