Arte transformista e carnavalesca como símbolo de resistência da comunidade LGBT paraibana
A dissertação ‘Memórias da Diversidade da Paraíba: as dores e os guardins de Nina Kelly’, do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGDH) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), destaca a arte transformista e carnavalesca como símbolo de resistência da comunidade LGBT paraibana.
Por meio da trajetória da artista Nina Kelly (na foto), o pesquisador Sérgio Ferro articula memória com diversidade sexual, identidades de gênero, raça, classe social e território.
“O trabalho busca a defesa de memórias das resistências sexo-gênero dissidentes ainda vivas no Brasil contemporâneo. O corpo visível de Nina, para além do estigma, tem ocupado as avenidas paraibanas, demarcando um território-travesti no espaço urbano cotidianamente tornado cenário de violência”, destaca.
De acordo com o ‘Relatório 2017 de pessoas LGBT mortas no Brasil’, elaborado pelo Grupo Gay da Bahia, foram registradas 445 mortes, sendo 387 assassinatos e 58 suicídios. Nunca a organização computou tantos óbitos em quatro décadas de levantamento.
Diante desse quadro, Sérgio Ferro distingue a importância da cultura transformista como memória de luta e resistência social da população LGBT. “A performance mitológica do Carnaval nutre sua alma transformista para fazer existir uma subjetividade próspera, digna e louvável”, enfatiza.
Através da arte transformista, Nina Kelly esteve lado a lado com militantes na articulação política institucional, na formação e permanência da comunidade sexo-gênero dissidente da Paraíba.
História de luta
Nina Kelly se reconhece como a primeira transformista da Paraíba. Nascida em 5 de julho de 1959, na cidade de Serraria, interior paraibano, cresceu em uma família da classe trabalhadora rural e foi criada por pais adotivos. Migrando para João Pessoa em busca de melhores condições de vida, Nina hoje trabalha de costureira, microempresária e transformista.
Simpatizante da religião cristã protestante, encontrou no Carnaval pessoense uma paixão. Na época, já casada e com 20 anos, passou a desfilar em escolas de samba. Já desfilou em grupos carnavalescos como Noel Rosa, Malandros do Morro, Independente, Catedráticos do Ritmo, Unidos do Róger, Império do Samba e Mandacaru.
Essa trajetória, para o pesquisador Sérgio Ferro, faz parte de um lugar onde habitam as trincheiras culturais do movimento pela libertação sexual na Paraíba.
Diário da Paraíba com Ascom-UFPB
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