Cantor Luciano detalha quarentena: louça, lives e Cardi B
Depois de 28 anos de carreira, a dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano enfrentou uma situação inédita: os dois irmãos ficaram distantes um do outro por mais de quarenta dias. A culpa, como sempre nos dias atuais, é da pandemia. Eles estão seguindo as orientações de distanciamento social. Luciano está com a família em casa, num condomínio na Grande São Paulo, enquanto Zezé se isolou em sua fazenda em Goiás.
O isolamento só está sendo quebrado para as transmissões de lives. No início do mês, eles se reencontraram pela primeira vez para a live dos Amigos, ao lado de Chitãozinho & Xororó e Leonardo. Na ocasião, para manter a distância, todos os artistas ficaram separados, cantando dentro de espécies de gazebos. Zezé e Luciano, no entanto, não resistiram. Quando cantaram Dou a Vida Por Um Beijo, eles se abraçaram. No domingo, 10, às 16h30, eles voltarão a se encontrar, desta vez para uma live especial do Dia das Mães.
A quarentena reservou ainda outra boa surpresa. A cantora Cardi B. publicou um vídeo em que cantava as músicas Tudo de Novo e Corazón en Pedazos, lançadas pela dupla há mais de vinte anos. “São músicas que fizeram parte da história da Cardi B.”, celebrou Luciano.
Aparentemente, Luciano está administrando bem a quarentena dentro de casa. Ele comemora pequenos prazeres, antes impossíveis para um artista que vive na estrada, como ficar 100% do tempo perto da esposa, Flávia Fonseca, e das filhas gêmeas, Isabella e Helena. Divide com elas as tarefas domésticas, como lavar a louça e o banheiro. Metódico, estabeleceu horários para as atividades cotidianas, como ler um livro, tocar violão, brincar com as filhas e namorar.
Como está lidando com o longo período afastado do seu irmão? Ficamos longe um do outro por quarenta dias. Por mais que a gente se fale pelo WhatsApp, não é a mesma coisa. Eu e o Zezé, como irmãos, antes disso tudo, tínhamos o privilégio de nos abraçar toda semana, sempre que subíamos no palco.
O protocolo diz que não pode abraçar, né? Mas o amor de irmãos derruba qualquer protocolo. O Zezé sempre canta olhando no olho. Ali, naquele momento, quando cantávamos Dou a Vida Por Um Beijo, não resistimos.
Foi por isso que vocês não resistiram e se abraçaram durante a live dos Amigos? Quando chegamos ao local da gravação, nos cumprimentamos com o pé, com o joelho, com o cotovelo e ficamos ali conversando, um longe do outro. O protocolo diz que não pode abraçar, né? Mas o amor de irmãos derruba qualquer protocolo. O Zezé sempre canta olhando no olho. Ali, naquele momento, quando cantávamos Dou a Vida Por Um Beijo, não resistimos. O público não interpretou esse abraço como uma quebra do isolamento social porque foi algo sincero, verdadeiro.
Como avalia o sucesso das lives? Tenho uma visão particular e profissional delas. Profissionalmente, foi preciso uma pandemia para virarmos a chavinha de que é possível fazer shows online. Acho que as lives vieram para ficar. As possibilidades são infinitas. Penso em shows corporativos, em lugares distantes ou sem infraestrutura, mas onde gostariam de contar com um show da dupla. Poderíamos transmitir praticamente para qualquer lugar do mundo. Do lado pessoal, eu estou aqui assistindo e curtindo, torcendo para que a pandemia passe o mais rápido possível.
Foi uma surpresa descobrir que uma das cantoras favoritas das suas filhas também é sua fã? Foi engraçado. Não penso que a Cardi B. cante a nossa música no dia a dia, mas acho que Zezé Di Camargo & Luciano fazem parte da história dela, porque ela relembrou de duas faixas de vinte anos atrás, lançadas em um álbum internacional, que também marcou a irmã dela. Fico feliz porque fizemos parte da trilha sonora da vida dela e isso me envaidece muito. Vou entrar em contato e agradecer, se possível, pessoalmente. Minhas filhas amam a música dela, mas a Isabella gosta também de sertanejo. Todo ano, aqui em casa, as meninas elegem a música do ano e a que mais ouvimos foi… [pergunta para a esposa o nome] Dance Monkey, da Tones And I. Viajamos para a Itália ouvindo essa música.
Como está a rotina em casa? Sou muito metódico. Tenho horário para tudo. Gosto de lavar a louça. Faço assim: quando a Flávia vai cozinhar — não sei cozinhar e não me intrometo porque ela faz pratos profissionais – fico ao lado lavando tudo para não acumular. Recentemente ela fez um franguinho desfiado com batata e cenoura que, meu Deus… É bom porque, quando terminamos de almoçar, a louça já está lavada e podemos ficar juntinhos e aproveitar o dia. Eu só não passo roupa. Estamos pegando as roupas direto do varal, dobrando e já colocando no armário. Eu venho de uma família humilde. Sempre cuidamos da casa. Se me derem água, sabão e cândida [água sanitária], eu lavo tudo.
Tenho horário para tudo. Gosto de lavar a louça. Eu só não passo roupa. Eu venho de uma família humilde. Sempre cuidamos da casa. Se me derem água, sabão e cândida [água sanitária], eu lavo tudo.
Luciano sobre rotina da quarentena
Você não é compositor, mas não se arriscou a escrever nada na quarentena? Só escrevo para a Flávia. Todo dia 16 eu escrevo uma cartinha para ela e compro uma orquídea. Estou estudando violão, mas, realmente, não componho.
Você é um leitor voraz. O que está lendo? Agora estou lendo Cruzando o Caminho do Sol, do Corban Addison. É uma história bem triste de duas personagens que estão passando por momentos difíceis. Se eu pudesse indicar algum livro para a garotada, eu sugeriria A Volta ao Mundo em 80 Dias, do Julio Verne. Minha filha está lendo e amando. Eu queria indicar Dostoiévski, mas acho melhor as pessoas lerem agora algo mais light.
De onde veio o hábito da leitura? Quando eu tinha 11 anos achei no lixo um livro desfolhado de Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez. Eu li o que dava para ler, mas não consegui descobrir o final porque estavam faltando algumas partes. Só fui terminar de ler muito tempo depois, quando ganhei dinheiro com a música e pude comprar uma edição novinha. Me marcou muito.
Na sua opinião, como a humanidade vai sair dessa pandemia? A perda de uma vida humana, que não seja de forma natural, é sempre uma tragédia. Acho que depois disso tudo o ser humano vai sair melhor. Precisamos ser solidários. Sentimos muito quando lemos sobre as tragédias como a de Brumadinho, em Minas Gerais, ou do furacão Katrina, nos Estados Unidos, mas a maioria das pessoas não sentiu na pele. Agora, a pandemia está fazendo todo mundo sentir diretamente os efeitos de uma tragédia. Nos sentimos mais frágeis. Isso vai mexer de uma forma inédita com a humanidade. Espero sairmos mais solidários. Perder um ente querido é uma dor muito grande. Pior ainda é sofrer por não estar junto nos momentos finais e não poder dar um abraço.
Como avalia o modo como o governo Bolsonaro está conduzindo a crise? Acho complicado falar como o governo está agindo. Como artista, tenho muitos privilégios. Eu não tenho como dimensionar a situação. Sinto muito pelo que está acontecendo. Não posso julgar um país que é rico e, ao mesmo tempo, pobre. Não posso julgar a condução da economia ou da crise do coronavírus. Porque, se afrouxa para um lado, aperta para o outro. No momento, eu não tenho opinião formada. Olho com muito cuidado e cautela, sempre pensando no que podemos fazer para ajudar. O cidadão Luciano está ajudando.