De Guadalajara a Lima, a evolução de Etiene rumo ao ouro no Pan
O céu cinza de Lima joga Etiene Medeiros de volta no tempo. Em 2011, era apenas uma promessa das piscinas quando embarcou para os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Tinha 20 anos e não conseguia segurar a vontade incontrolável de comer chocolate. Lá, nadou apenas uma prova, os 100m costas, e não foi bem. Hoje, oito anos depois, cravou seu nome como primeira nadadora brasileira a vencer os 50m livre na história da competição.
– Acho que a natação feminina tem muito o que crescer. Eu estou crescendo. Cada competição é diferente da outra. Eu era aquela menina em Guadalajara que ficava comendo chocolate todo dia e agora estou aqui conquistando outra medalha. Gostaria de ter feito um pouco mais forte, a gente que sabe que em nível mundial o buraco é mais embaixo. O Pan-Americano serve muito para a nossa carreira, mas não é tanto parâmetro. Agora é colocar a cara na água.
Há menos de um mês, Etiene deixou o Mundial de Gwangju insatisfeita com seu desempenho. Nas eliminatórias dos 50m livre, sua prova preferida, fez apenas o 23° tempo, com 25s26. Teve pouco tempo recuperar o fôlego para o Pan. Em Lima, também conquistou o bronze nos 100m costas.
– Eu nem sei o que falar porque às vezes você está em um momento muito bom na sua carreira, com bons resultados, mas você não absorve o que está acontecendo. Para mim, está sendo “Lima – Superação”. Porque eu vim do Mundial, foi difícil pegar o fuso, encarar o frio. Vocês não têm noção do quanto isso envolve, é um fator que faz diferença no nosso rendimento. Várias coisas. Mas na hora que você cai na piscina, precisa fazer por amor.
Etiene Medeiros se acostumou a quebrar parâmetros, mas prefere manter a calma. O ouro nos 50m livre em Lima a transformou na nadadora brasileira mais vencedora em Jogos Pan-Americanos. Ela, que havia levado quatro em Toronto, já somou outras quatro em Lima. Larissa Oliveira, bronze com o revezamento 4x100m medley na noite de sexta, soma nove medalhas, uma a mais que a pernambucana. Etiene, porém, conquistou seu segundo ouro em Jogos Pan-Americanos, contra apenas um da companheira. Mas nem a medalha a desvia de sua análise.
– Sempre tem que agradecer, por mais que não esteja satisfeita com o tempo. Mas preciso ter o pé no chão. Tecnicamente falando, o nível está sendo um pouco mais fraco que o de Toronto, vimos isso em quase todas as provas Não podemos, então, pegar esse gancho e falar: “Ah, os nadadores agora vão ser campeões olímpicos”. Porque essa não é a nossa realidade. O nível mundial é muito mais forte. Essa é uma preparação para as Olimpíadas.
E, na preparação, Etiene tenta conseguir ajuda. Sem um patrocinador individual, a nadadora tenta conquistar novos apoios rumo aos Jogos de Tóquio.
– Eu estou em busca muito de um patrocínio individual, eu estou em busca disso há muito tempo. Eu sei que a mídia, a parte do marketing, é bem difícil porque a Etiene muitas vezes é o case do projeto, mas não é a realidade do projeto. Eu faço isso por amor. No dia que eu não gostar ou não tiver prazer em fazer, não vou fazer. Estou aqui, levantando a bandeira da natação, da natação feminina, do esporte feminino. Isso é muito importante. A gente sabe que a educação no Brasil precisa melhorar muito porque o que vale é a medalha. E a gente sabe que não é assim. Ah, ganhou ouro no Pan-Americano e vai ser campeã olímpica. E chega na Olímpiada, se não ganhar, é fracasso, decepção. E isso é muito triste porque estamos lá todos os dias batalhando, sendo responsável.
Globo Esporte