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Imperatriz Leopoldinense é a campeã do carnaval do Rio e encerra jejum de 22 anos

O título coroa a segunda passagem do carnavalesco Leandro Vieira pela escola, que levou à Marquês de Sapucaí a história de Lampião, o rei do cangaço Foto: Ricardo Moraes/ReutersImperatriz Leopoldinense é campeã do carnaval do Rio de Janeiro de 2023. A escola de samba de Ramos, na zona norte da cidade, encerrou um jejum de 22 anos sem conquistar o título do Grupo Especial carioca. O título, com 269,8 pontos, coroa a segunda passagem do carnavalesco Leandro Vieira pela escola. A agremiação levou à Marquês de Sapucaí a história de Lampião, o rei do cangaço, em uma fantasia envolvendo a tentativa do cangaceiro de ingressar no inferno e no céu. Recusado em ambos, acabou indo… desfilar na Imperatriz.

Em segundo lugar, ficou a Unidos do Viradouro (269,7 pontos); em 3º, Vila Isabel (269,3); em 4º, Beija Flor (269,2); em 5º, Mangueira(269,1), e em 6º, a Grande Rio (268,6). As seis primeiras colocadas voltam à passarela do samba para o desfile das campeãs no próximo sábado, 25. A Império Serrano foi rebaixada para a Série Ouro de 2024, a segunda divisão da festa.

O enredo fantasioso e criativo sobre Lampião e sua tentativa de entrar no inferno e no céu valeu à Imperatriz Leopoldinense seu nono título no carnaval carioca. O carnavalesco, que ganhou fama ao conquistar dois títulos pela Mangueira, em 2016 e 2019, já havia trabalhado na Imperatriz em 2020. Foi quando a escola disputou a segunda divisão e venceu, retornando à elite do carnaval carioca.

“Eu estou muito feliz. É bom demais fazer parte de um projeto que olha para a comunidade e sonha junto com ela. A Imperatriz ganhou porque a comunidade acreditou nela. A comunidade caiu com ela em 2019 e voltou com ela em 2020. O sonho que nós sonhamos lá atrás foi colhido hoje”, afirmou Vieira à TV Globo.

A escola de Ramos (zona norte do Rio) liderou a disputa durante toda a apuração, e só perdeu o primeiro décimo (descontada a menor nota) no sétimo de nove quesitos (comissão de frente). Mas nunca deixou o primeiro lugar, enquanto a segunda posição variou, acabando nas mãos da Unidos do Viradouro.

À TV Globo, a presidente da Imperatriz Leopoldinense, Cátia Drumond, dedicou o título da escola ao pai, o bicheiro Luiz Pacheco Drumond, presidente de honra da escola que morreu em julho de 2020, aos 80 anos.

“Esse título ofereço ao meu pai. Lá do céu, ele está muito feliz. Eu tenho certeza disso. A gente merecia. Viemos do acesso, ficamos em décimo lugar e trabalhamos. Trabalhamos para chegar aqui. Complexo do Alemão é tudo. Sem eles, não somos nada”, afirmou.

O mestre de bateria Luiz Alberto Lolo, responsável por quatro notas dez para a escola, ressaltou o tempo dedicado por cada integrante da “Swing da Leopoldina” para o desfile deste ano.

“A gente ensaia oito meses para chegar aqui, idealizar um projeto legal para tomar nota dez e ajudar a escola. Graças a Deus deu tudo certo. A gente tocou xaxado, a gente tocou baião, a gente deu tiro na avenida… Graças a Deus fomos agraciados com esse título”, disse.

Primeira escola a se exibir, o Império Serrano homenageou o compositor Arlindo Cruz. As fantasias e alegorias eram simples, sem luxo, mas não faltou emoção. Arlindo sofreu um acidente vascular cerebral há seis anos e ainda tenta se recuperar. Ele só se expressa (pouco) por meio da fisionomia e desfilou em um trono no último carro alegórico, acompanhado pela mulher, Babi, por outros familiares, amigos e uma equipe médica. Sua passagem pela passarela comoveu a plateia.

A partir da canção “Meu Lugar”, um dos sucessos de Arlindo e que exalta o bairro de Madureira (zona norte do Rio), onde Arlindo cresceu e onde fica o Império Serrano, a agremiação apresentou a região. Também fez referências à história do Império e a passagens fundamentais da vida do compositor. Alas retrataram músicas como “Camarão que dorme a onda leva” e “Bagaço da Laranja”, duas parcerias de sucesso com Zeca Pagodinho (a primeira também com Beto sem Braço). Também foram retratadose pontos como o Cacique de Ramos, bloco carnavalesco onde surgiu o grupo Fundo de Quintal, que o artista integrou. Houve ainda homenagtens a outros parceiros e inspiradores de Arlindo, como Mano Décio da Viola e Dona Ivone Lara. A religiosidade de Arlindo também foi bastante exaltada.

Campeã do carnaval do Rio em em 2022, a Grande Rio homenageou Zeca Pagodinho passeando por lugares que fazem parte de sua história à procura do artista. Por fim “encontrou-o” em seu sítio em Xerém, distrito de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense onde fica a Grande Rio. Ele desfilou no último carro alegórico, abastecido com chope. A escola exibiu fantasias e alegorias muito luxuosas, mas errou na evolução: em pelo menos dois momentos, por conta de dificuldade para movimentar alegorias, abriu espaços entre alas bem na frente das cabines de jurados. Com o atraso, precisou correr no fim e encerrou o desfile faltando apenas 25 segundos para completar o tempo máximo de 70 minutos – se não respeitasse esse limite, seria punida com a perda de pontos.

A Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou a história de mestre Vitalino, artista que fazia esculturas com barro e deixou muitos seguidores em Alto do Moura, bairro de Caruaru. A escola apresentou fantasias luxuosas, mas o samba não empolgou e ocorreram pequenos deslizes de evolução.

Quarta escola a se apresentar, a Unidos da Tijuca fez uma viagem pela Baía de Todos os Santos, área da costa brasileira onde estão situadas Salvador e outras cidades baianas, e surpreendeu com um efeito de luzes inédito nos desfiles. Na comissão de frente, a atriz Juliana Alves representou Iemanjá e desfilou sobre uma pequena alegoria que interagia com a comissão de frente. Em um trecho da encenação, a iluminação da pista de desfiles era reduzida e as luzes do próprio elemento cenográfico onde a atriz estava davam a impressão de que ela levitava. O público aclamou a manobra, mas a escola teve problemas técnicos. O último carro alegórico bateu em um viaduto quando manobrava pra entrar na avenida, e um elemento cenográfico (um farol de orientação marítima) foi danificado – atravessou a pista assim. Um tripé passou metade do desfile pendendo para a esquerda, em vez de seguir pelo meio da pista de desfile.

Comissão de frente da Unidos da Tijuca se torna a primeira a fazer uma performance com as luzes apagadas no Carnaval. Foto: Pedro Kirilos/Estadão Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Com um enredo que questionou o que é pecado e defendeu a liberdade de expressão, o Salgueiro foi a quinta e penúltima escola a desfilar no primeiro dia. Com fantasias e alegorias luxuosas, fez um bom desfile, mas também teve vários problemas técnicos. Os dois primeiros carros alegóricos tiveram dificuldades para entrar na pista, o que ocasionou a abertura de espaço logo no início do desfile. O samba também não foi dos mais empolgantes.

Viviane Araújo, a Rainha de Bateria da Salgueiro. Foto: Pedro Kirilos/Estadão Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Mangueira encerrou a primeira noite de desfiles contando a saga das mulheres africanas que foram escravizadas e conduzidas à Bahia, e cujos descendentes acabaram chegando ao Rio e à Mangueira. Com um samba contagiante – que rivaliza com o da Grande Rio como o mais popular do ano – e fantasias e alegorias coloridas e adequadas ao enredo afro, a escola foi a que mais contagiou o público – terminou o desfile às 5h55. A ministra da Cultura, a cantora e compositora Margareth Menezes desfilou numa alegoria que representava um trio elétrico

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A primeira escola a desfilar na segunda noite de exibições foi a Paraíso do Tuiuti, agremiação do morro do Tuiuti, em São Cristóvão (zona norte do Rio) que exaltou o estado do Pará a partir da história da chegada dos búfalos à ilha. Penúltima colocada no concurso de 2022, a escola queria se manter na elite, e certamente atingiu esse objetivo. Fez um desfile correto, em vários aspectos superior a escolas tradicionais como Mocidade Independente de Padre Miguel e Portela, que tiveram problemas com carros alegóricos.

As fantasias e alegorias da Tuiuti eram simples, comparadas à oponência de Salgueiro ou Grande Rio, mas o enredo foi muito bem contado, como é praxe no trabalho da consagrada carnavalesca Rosa Magalhães, maior vencedora de desfiles na “era sambódromo”, como é chamado o período a partir de 1984, quando a atual passarela do samba foi inaugurada. Rosa divide a função de carnavalesca da Tuiuti com João Victor Araújo.

Paraíso do Tuiuti fez um desfile simples, mas correto Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Portela, cuja apresentação era a mais esperada da segulnda noite, é a recordista de títulos no carnaval carioca (22) e comemora seu centenário neste ano. Decidiu contar sua própria história na avenida. A escola teve dificuldades na preparação do carnaval, mas havia expectativa de uma apresentação inesquecível e da volta no desfile das campeãs. Mas o terceiro carro alegórico teve problemas desde o início da exibição e quebrou pouco antes da primeira cabine de jurados. Chegou a bater na grade que separa as frisas da pista, e causou a abertura de um espaço de aproximadamente cem metros na pista (que tem 700 ). O desfile, porém, foi histórico pelo enredo e pelas homenagens. O que não faltou foram celebridades e personagens históricos da escola, como Paulinho da ViolaZeca PagodinhoMarisa MonteDiogo NogueiraLuiza Brunet Adriane Galisteu. Uma novidade foi um conjunto de drones que formaram no céu palavras ou expressões como “Portela”, “100 anos”, “Monarco” e “Clara”, esta referência à cantora portelense Clara Nunes.

A Portela teve problemas no desfile do centenário Foto: Pilar Olivares/Reuters

De novo sob as ordens do carnavalesco Paulo Barros, a Vila Isabel apresentou festas religiosas pelo Brasil e pelo mundo, um enredo simples, expresso em alegorias e fantasias muito luxuosas e de fácil compreensão. Foi o primeiro desfile que a escola faz sob a gestão do presidente Luizinho Guimarães, filho de Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, contraventor e um dos fundadores da Liga Independente das Escolas de Samba. Ele é figura constante nos desfiles da Sapucaí e iria desfilar junto com o cantor e compositor Martinho da Vila, presidente de honra da escola. Mas desde dezembro Guimarães cumpre prisão domiciliar, sob acusação de ter mandado matar o pastor Fábio Sardinha, assassinado em junho de 2020. Então, restou ao filho Luizinho dedicar o desfile ao pai. A Vila fez um excelente desfile, digno dos melhores momentos de Paulo Barros.

Vila Isabel falou das festas religiosas Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Imperatriz Leopoldinense., na segunda passagem do carnavalesco Leandro Vieira (ele já havia trabalhado na escola em 2020, quando a Imperatriz disputou e venceu o concurso da segunda divisão), a escola apresentou uma fantasia envolvendo a morte de Lampião e a tentativa dele de ingressar no inferno e no céu. Recusado em ambos, acabou indo… desfilar na Imperatriz. A história fantástica foi muito bem contada pela escola de Ramos (zona norte do Rio), que esbanjou luxo em fantasia e alegorias.

Imperatriz apresentou uma fantasia sobre Lampião Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Beija-Flor levou um susto a poucos minutos do início de sua apresentação: o carro abre-alas sofreu um princípio de incêndio quando faíscas atingiram material inflamável. Mas o problema foi sanado antes de o desfile começar, então não causou reflexos na avenida. Resolvido esse problema, a Beija-Flor falou sobre os 200 anos da expulsão das tropas portuguesas da Bahia, que ocorreu em 1823 e consolidou a autonomia brasileira frente a Portugal. A escola defendeu a ideia de que essa foi a verdadeira independência do Brasil. Com carros alegóricos e fantasias muito luxuosas e a habitual disposição dos desfilantes, que não pararam de cantar o samba interpretado por Neguinho da Beija-Flor em parceria com Ludmilla.
Coube à Unidos do Viradouro, de Niterói (Região Metropolitana do Rio), encerrar a segunda noite de desfiles das escolas de samba do Rio, com uma homenagem a Rosa Maria Egipcíaca (1719-1771), africana que aos 6 anos de idade foi escravizada e trazida ao Brasil. Inicialmente obrigada a fazer serviços domésticos, depois ela foi vendida a donos de minas de ouro, que passaram a explorá-la sexualmente. Como tinha sonhos e visões que se concretizavam, passou a ser considerada bruxa pela Igreja Católica, embora fosse cultuada pelo povo. Foi presa em um convento no Rio, onde aprendeu a ler e escreveu um livro autobiográfico – que teria sido o primeiro escrito por uma mulher negra no Brasil. Com alegorias muito bem trabalhadas, fantasias luxuosas e desfilantes muito animados, a escola encerrou sua exibição já sob os primeiros raios de sol, aos gritos de campeã.
Estadão