Nível de desigualdade social na região metropolitana de João Pessoa é o maior do Brasil, aponta estudo
A Região Metropolitana de João Pessoa foi a que mais apresentou crescimento da desigualdade social em todo o país, conforme a quarta edição do “Boletim Desigualdade nas Metrópoles”, elaborado pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e com o Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).
Na Região Metropolitana de João Pessoa, o rendimento médio dos 10% mais ricos passou de 50,8, no primeiro trimestre de 2020, para 99,8 vezes maior do que o rendimento médio dos 40% mais pobres, no primeiro trimestre de 2021.
De acordo com o boletim, os 40% mais pobres têm renda per capita média de R$ 57, enquanto para os 10% mais ricos essa renda é de R$ 5.643. Os 50% da população em nível intermediário têm renda per capita média de R$ 712.
O boletim levantou dados preocupantes acerca dos efeitos que a pandemia da Covid-19 provocou, ao longo de um ano, no que diz respeito à renda e sua distribuição entre os moradores das metrópoles.
Os dados mostram que no primeiro trimestre de 2021 a média móvel do coeficiente de Gini nas Regiões Metropolitanas, que mede a desigualdade de rendimentos do trabalho (quanto mais alto o valor, maior a desigualdade) atingiu seu maior valor na série histórica, iniciada em 2012, chegando a 0,637. Um ano atrás, no primeiro trimestre de 2020, antes da crise da Covid-19, essa média do Gini era de 0,608.
No conjunto das metrópoles mais desiguais no 1º trimestre de 2021, com Gini acima da média, temos, em ordem decrescente de desigualdade de renda: João Pessoa, Rio de Janeiro, Recife, Aracaju, Salvador, Maceió, São Paulo, Belém, Fortaleza e Natal.
O levantamento também apontou que, em João Pessoa, 43,2% das pessoas vivem em domicílios com até 1/4 de salário mínimo de renda per capita (por pessoa). Este percentual é o segundo maior do país, ficando atrás apenas de Maceió (45,3%).
Pandemia
Segundo Andre Salata, professor da PUCRS e também coordenador da pesquisa, com os dados referentes ao primeiro trimestre de 2021, os pesquisadores tiveram condições de analisar o que ocorreu nas regiões metropolitanas ao longo de quatro trimestres, ou seja, um ano, desde o início da pandemia da Covid-19 no Brasil.
“Os resultados são desanimadores. A desigualdade alcançou seu maior nível, a renda regrediu para níveis do início da série, diminuindo especialmente entre os mais pobres, e milhares de famílias caíram para estratos de rendimento extremamente baixos. Os números que trazemos expressam o que qualquer morador destas regiões percebeu ao longo do último ano, com o aumento sensível do número de pedintes, desempregados, vendedores ambulantes e pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade”, ressaltou Salata, que complementa, afirmando que “em um cenário de diminuição acentuada da renda média, e de uma piora substantiva na sua distribuição, o resultado não poderia ser diferente, fazendo milhares de famílias caírem para estratos de rendimentos mais baixos”.
Conforme Salata, o aumento das desigualdades no Brasil, mais especificamente nas metrópoles, já vinha ocorrendo desde 2015. “Já partimos de um patamar extremamente elevado. No último ano, no entanto, há um enorme salto nessa desigualdade, fruto de um contexto em que quase todos perdem, mas os mais pobres perdem relativamente muito mais. O resultado é que, enquanto no início de 2020 os 10% do topo da distribuição de renda ganhavam, em média, 29,6 vezes mais do que os 40% da base da distribuição de renda em nossas metrópoles, agora eles ganham 42,3 vezes mais. Portanto, hoje nossas metrópoles são muito mais desiguais do que eram no primeiro trimestre de 2020”, informa o coordenador do estudo.
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