Onda de ataques em escolas surge do extremismo nas redes sociais

Dez dos 22 atentados em escolas do Brasil desde 2002 ocorreram nos últimos 13 meses. Nove somente no ano passado. A média de idade dos suspeitos é de 16 anos e a arma preferida para cometer os ataques são revólveres e pistolas. Os dados estão no Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, coordenado pela pesquisadora Michele Prado. Ela explica em nota técnica as motivações dos jovens criminosos e analisa a propagação do extremismo nas redes sociais.

A pesquisa foi publicada no dia 28 de março, antes do último ataque brutal em um ambiente escolar, na creche em Blumenau (SC), que não entrou nos registros. Neste atentado em Santa Catarina que chocou o país, quatro crianças foram mortas e cinco feridas por um homem de 25 anos, no dia 5 de abril.

Michele Prado diz que a progressão dos ataques nas instituições de ensino do país teve um crescimento acelerado. O levantamento não inclui as tentativas frustradas, o que “subiria assombrosamente” o número de atentados da lista, segundo a pesquisadora da USP. Ela destaca que não houve ataques em estados da região Norte. A maior incidência são em unidades da federação nas regiões Sudeste (SP, RJ, MG e ES), Sul (RS e PR), Centro-Oeste (GO) e Nordeste (BA, PB e CE). O estado de São Paulo lidera o ranking com oito ataques.

“Ao menos seis agressores responsáveis por atentados de extremismo violento e/ou tentativas no último ano aqui no Brasil exibiram (através de análise de suas pegadas digitais) conexões diretas com a subcultura online extremista e letal True Crime Community e outras subculturas ligadas à ‘black pill’ como a ‘incelsfera’,”, cita em um trecho da nota técnica.

O termo black pill (pílula preta, em inglês) se refere a profunda desesperança de um indivíduo com relação à sociedade, sem expectativa de melhora. Prado alerta para os riscos de redes sociais mundialmente populares, como o TikTok, que são também porta de entrada para radicalização de jovens para cometer ataques violentos.

“No TikTok, as hashtags relacionadas à essa subcultura online extremista são abundantes e circulam livremente como mostra levantamento realizado no período de dezembro de 2022 a janeiro de 2023 pela equipe do Núcleo Jornalismo. O levantamento encontrou aproximadamente 344 milhões de visualizações relativas aos conteúdos de extremismo violento online produzidos por usuários dessa subcultura.”, exemplificou.

Ainda conforme a pesquisadora da USP, o desafio é “compreender de que forma os ecossistemas digitais mais amplos como a ‘manosfera’ e as suas ramificações (comunidades ‘red pill’) e as subculturas online extremistas tangenciais” estão ligadas com as motivações destes agressores. A manosfera é o nome da rede de comunidades masculinas, sendo que o termo red pill (pílula vermelha, em inglês) se refere ao filme “Matrix” (1999), onde o protagonista toma a “red pill” para ter consciência sobre a sua realidade.

Pessoas Red Pills são homens que se opõem ao “sistema que favorece as mulheres”. Uma conduta fortemente misógina.

A pesquisadora também lista vários sinais de radicalização de jovens que servem de alerta para os pais, responsáveis e profissionais de saúde mental (psiquiatras e psicólogos). Entre os sinais, três precisam ser observados com mais preocupação por ser necessário uma intervenção urgente: consumo e disseminação de conteúdos com violência extrema/atentados, terroristas e tiroteios em massa (em subculturas online extremistas como tcctwt e gore); crença de que a violência é a única solução para as suas demandas; e ameaças verbais ou escritas de realização de ações violentas extremas.

Por Diogo Rocha, do ATUAL