Sobreviventes dos ônibus arrastados pela correnteza em Petrópolis (RJ) descrevem momentos de pavor

Entre as cenas mais chocantes da tragédia em Petrópolis, houve uma que deixou milhões de brasileiros petrificados. Pessoas que estavam em dois ônibus arrastados pela correnteza.

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra dois ônibus sendo encobertos e arrastados pela enxurrada que se formou na rua Coronel Veiga, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiroapós as fortes chuvas da última terça-feira (15).

No início da tempestade, a água encosta apenas as rodas dos veículos. Entretanto, após um tempo, o nível sobe e chega a encobrir os coletivos que estão com passageiros, que tentam fugir pelas janelas.

“Foi só aumentando a água, e a gente dentro do ônibus. O motorista pediu para todo mundo ter calma, mas chegou um certo momento em que o motorista mesmo já se prontificou, falou: ‘Vamos quebrar aqui a janela, tirar a janela de emergência para descer’”, contou o sobrevivente Élson de Sá.

Os dois ônibus seguiam pela Rua Washington Luís, uma das principais de Petrópolis. Nas margens da via fica o Rio Quitandinha.

As imagens comparam o antes e o depois de onde os dois ônibus foram arrastados no temporal. A água engoliu os veículos, que tombaram na pista.

Para ver até onde foi a inundação, é possível observar o nível da água tomando um telhado como referência. E, depois, com a força da correnteza, os dois ônibus foram arrastados para o canal do rio por aproximadamente 60 metros.

Chama atenção a altura em que a água chegou. Dá para afirmar com clareza que a água passou dos 2 metros de altura. Quem estava em cima do ônibus, naquela situação, não conseguia ter ideia de onde terminava a Rua Washington Luís e onde começava o Rio Quitandinha.

O motorista de um dos ônibus, Carlos Alberto da Silva Nascimento, amarrou uma corda num portão. Foi dessa maneira que outros passageiros conseguiram sair.

“Eu pulei primeiro, segurei na corda e começamos a descer as pessoas. Foram acho que 12 pessoas que nós conseguimos tirar. Eu queria ter salvado todos”, disse emocionado.

Moradores contam que uma barreira que fica na beira do rio, a cerca de 300 metros do local de onde os ônibus estavam parados, veio abaixo e que, instantes depois, os dois ônibus foram arrastados para dentro do Rio Quitandinha.

Os passageiros tentaram de tudo. Em uma imagem exibida pelo JN, dá para ver pelo menos 15 pessoas ilhadas. Tem até uma criança com a mochila da escola nas costas.

Logo depois a corda arrebentou. Em seguida, um ônibus afundou. Um passageiro conseguiu nadar até o outro ônibus segurando numa corda. O outro ônibus também foi engolido pela água. Élson disse que foi arrastado do outro lado do rio.

“Foi a própria água mesmo que me jogou para fora do ônibus. Naquela hora, foi Deus que me levou para aquele lado”, relembrou o sobrevivente.

Mas alguns passageiros foram levados pela água e desapareceram. A família de Gabriel da Rocha identificou o jovem, de 17 anos, em cima do ônibus por um vídeo, na TV. O estudante saiu pela janela e tentava pedir ajuda.

O ônibus que Gabriel estava começou a afundar. Ele chegou a se agarrar na corda, mas, em poucos minutos, o segundo ônibus também começa a fundar e Gabriel foi levado pela correnteza. Gabriel tinha ido ao Centro de Petrópolis para trocar uma mochila.

“A gente está com o coração doendo. Se Deus quiser, a gente vai encontrar ele bem. Tem que ter fé”, disse Luciana Ferreira da Silva, madrasta de Gabriel.

Fernanda e Daniel conseguiram escapar pela janela. Nadaram até a margem do rio.

“Eu só pulei e não teve nem muito o que fazer. Tudo durou mais de cinco horas de pesadelo”, relatou a sobrevivente Fernanda Vieira.

Jornal Nacional