Surreal: Brasil assiste a operações ao raiar do dia para apreender adolescentes que ameaçam escolas

Parece meio surreal, mas a polícia civil executou uma operação em 5 grandes estados (Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Pernambuco), nesta última quarta-feira, cujo objeto principal era cumprir mandados de internação provisória de adolescentes.

Como nas operações da PF (Polícia Federal) para prender políticos ou empresários acusados de corrupção ou de outras polícias para prender criminosos comuns (assassinos, traficantes, ladrões), a polícia bateu nas casas dos menores ao raiar do dia. Ao invés de saírem para a escola, os adolescentes foram conduzidos para centros de internação de menores que cometem atos infracionais.

Os internados vão responder por atos análogos aos de crime de ameaças, incitação ao crime, apologia ao crime e associação criminosa. Registre-se que dois adultos foram presos na operação e mais de uma dezena de mandados de busca e apreensão foram cumpridos.

E o que esses menores estavam fazendo?

Planejando, segundo as investigações, realizar ataques violentos e criminosos em escolas. Foram flagrados combinando as ações numa plataforma na internet. As descobertas ocorreram no curso das investigações dos brutais crimes em Blumenau. A busca por explicações para o caso de lá permitiu localizar e identificar graves ameaças em andamento noutras cidades.

Existe uma reação interessante ao assassinato de uma professora a facadas por um aluno numa escola de São Paulo, no finalzinho do mês de março, e o brutal trucidamento a golpes de machadinha de quatro crianças em Blumenau (SC) por um frio e cruel jovem criminoso, além de outros casos, que acabaram produzindo um grave pânico no país nos últimos dias.

A reação chega em dois movimentos – um do sistema de segurança, e o outro, da Justiça.

O movimento do sistema de segurança é uma intensa investigação nas plataformas digitais. São 3.403 policiais federais e estaduais envolvidos nas investigações e serviço de inteligência. As forças de segurança colocaram seus aparatos de monitoramento digital para vasculhar as redes sociais e plataformas diversas da internet para tentar detectar potenciais ameaças, além de fake news. E detectaram.

Balanço do Ministério da Justiça registra que, em duas semanas, 302 pessoas já foram presas ou apreendidas em diversos estados por suspeitas de planejar ataques em escolas ou divulgar notícias falsas de possíveis ataques; foram cumpridos 270 mandados de busca e apreensão; já foram registrados 1.595 boletins de ocorrências relativos ao tema e expedidas 694 intimações de adultos ou menores suspeitos. Os canais de denúncias colocados à disposição da população já foram acionados 7.473 vezes.

Lógico que é preciso aperfeiçoar, mas vê-se que o sistema de monitoramento digital funciona.
Outro movimento que chama a atenção tem sido a disposição de juízes no país inteiro de conceder mandados de buscas e apreensão nas residências de menores que de alguma forma que verbalizam ameaças e mandados de internação provisória para os casos mais graves, em que já se constata crimes em planejamento ou preparativos de execução. A Justiça foi obrigada a ficar mais rígida.

Esses fatos não geram satisfação, orgulho ou qualquer outro sentimento na mesma linha. São deprimentes para um país que precisa muito da educação para evoluir e se desenvolver. Talvez gerem algum alívio diante do pânico instalado. Mas são ações que, com certeza, servirão para abrir os olhos dos pais para o que seus filhos estão fazendo na internet e o que eles estão fazendo com seus filhos. Vão obrigar a comunidade escolar a refletir sobre o modelo de educação e relacionamento que tem abrigado e produzido. Vão forçar a sociedade a refletir.

Quer se queira ou não, essa questão será amplamente debatida e, consciente ou não, toda a discussão trará à tona o conflito entre a cultura da violência e a cultura da paz.

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